Eventos realizados em abrigos exigem cautela para que as crianças não acabem sendo prejudicadas, afirmam especialistas. "Elas convivem num lugar de muita passagem de pessoas muda funcionário, entra e sai criança. As festas podem reforçar esse trânsito quando, na verdade, o que o abrigado precisa é de vínculos", explica a psicóloga Bárbara Snizek, que pesquisou adoção e abrigamento. Em sua avaliação, as pessoas interessadas em ajudar devem visitar as instituições com assiduidade.
Ela considera positiva a festa de aniversário realizada no Lar Amor Real. "Janeiro é o melhor mês para esse tipo de iniciativa. Quase ninguém procura os abrigos. É o inverso do que ocorre no Natal, na Páscoa e no Dia das Crianças." Outro fator importante, considera, é a aproximação entre as crianças e a comunidade. De um lado, os internos recebem atenção; de outro, os visitantes quebram estereótipos. "As crianças não estão lá para serem expostas. O abrigo, numa determinada fase, é o melhor lugar para elas."
Como a situação é pouco comum, os abrigos não regulamentaram a realização de eventos. As instituições são abertas à comunidade e podem realizar festa de aniversário a partir de simples agendamento, informa a 1.ª Vara da Infância de Curitiba. Sem controle sobre a lista de convidados, no entanto, pode haver aproximação de adultos legalmente impedidos de visitar crianças que são seus parentes ou estão em listas de adoção. Os abrigos podem responder legalmente caso haja algum incidente.
Os cuidados devem considerar, porém, que "essas crianças não querem ser esquecidas", diz a psicóloga Lidia Weber, pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ela questiona restrições rigorosas às visitas. "Há pessoas que não concordam porque os visitantes podem nunca mais voltar. Será que não é melhor para a criança receber esse visitante, mesmo que uma vez na vida? Ela merece coisas bacanas, não só em momentos como o Natal."
Seu conselho é para que os visitantes, antes de escolher presentes, pesquisem o que a criança quer e o que o abrigo necessita. Material escolar e produtos de limpeza, por exemplo, podem ser mais úteis que brinquedos ou mesmo alimentos. Há crianças precisando inclusive de tratamento médico.
A presidente do Lar Amor Real, Tatiana Meira, confirma que há visitantes equivocados, mas relata que sem ajuda da comunidade seria impossível garantir "o mínimo" às crianças. "O ideal seria que o abrigo nem existisse, que a sociedade desse a seus filhos o que eles precisam", lembra.
Consenso entre os especialistas é que a história da criança não deve funcionar como atrativo. Eles afirmam que, ao comparecerem aos abrigos com maior frequência, os visitantes amadurecem suas ideias e percebem que a lamentação pouco ajuda. É fácil saber o que as crianças mais precisam, conforme a mãe social Lucineide, que toma conta de nove filhos no Amor Real. Ela mora no local com o marido, Reinaldo, e recebe um salário mínimo para se dedicar integralmente às crianças. "O que temos de fazer é cuidar de cada uma delas", resume.