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Das 120 especialidades oferecidas pelo sistema de saúde da prefeitura em Curitiba, 19 apresentam problemas de fila de espera, de acordo com levantamento da própria Secretaria Municipal de Saúde. Em alguns casos, um paciente pode ficar esperando até nove meses para conseguir uma consulta. A prefeitura admite a demora e alega que a situação é conseqüência das políticas públicas adotadas pelo governo federal e dos repasses insuficientes realizados por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

Para Serly Silva, 22 anos, que espera por uma consulta oftalmológica desde fevereiro deste ano, pouco importa de quem seja a responsabilidade pela demora no atendimento. Cega de um olho e com miopia no outro, a jovem procurou um clínico-geral na Unidade de Saúde do Sabará, na Cidade Industrial de Curitiba, que a encaminhou para o especialista. "Ela reclama de muita dor de cabeça e o médico disse que ela precisa trocar o óculos, mas não temos como pagar um médico particular para acabar com o sofrimento", conta a irmã Rosely, que toda a semana vai até o posto conferir se a consulta foi agendada. "Não dão nem previsão", diz.

E a situação deve permanecer indefinida. A prefeitura ainda procura uma forma de conseguir mais parceiros conveniados. Segundo a Secretaria de Saúde, o valor pago pelo SUS por consulta com um especialista não atrai as instituições que estariam em condições de firmar convênios.

Do outro lado da rua, em frente a casa de Serly, a vizinha Jesione dos Santos Pompeu, 39 anos, espera há quase oito meses por uma consulta psiquiátrica. Ela foi encaminhada ao psiquiatra por um dermatologista particular pago por seu patrão. Jesione sofre de uma alergia que a ataca o corpo inteiro e que tem fundo psicológico. O médico receitou remédios para amenizar o problema.

Mas o drama poderia ser pior. Se ainda estivesse aguardando pelo dermatologista público a espera completaria um ano no próximo dia 6 de dezembro. "É humilhante. Vamos para a fila de madrugada para conseguir o atendimento do clínico-geral e depois tem que esperar todo esse tempo para ser atendido pelo especialista. Se não fosse meu patrão, estaria sofrendo até hoje", lamenta.

De acordo com a coordenadora municipal de Saúde Mental, a médica Cristiane Honório Venetikaides, a demanda nos ambulatórios de psiquiatria aumentou devido à política do governo federal que preconiza a retirada de doentes mentais de instituições. Segundo ela, o Ministério da Saúde criou uma tabela que diminui os repasses do SUS para os estabelecimentos que mantêm mais leitos para os pacientes de transtornos mentais. Com isso, as instituições estão se descredenciando e a demanda recaindo sobre as unidades de saúde.

Sem informar o tamanho da fila de espera, a médica diz que pretende resolver o problema aumentando o número de Centros de Atenção Psicossocial (Caps), estruturas criadas pelo governo federal para substituir as instituições de internamento. Serão mais três unidades no ano que vem que vão aumentar em 700 vagas a capacidade de atendimento de pacientes com transtornos mentais e com problemas com drogas e álcool. Além disso, a secretaria realizou nova licitação para substituição de ambulatórios. As unidades ainda não estão em sua capacidade total, mas de acordo com a coordenadora, o número de atendimento vai passar de 7 mil para 11 mil por mês.

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