O grupo de jovens cegos que voltariam a Angola ontem por determinação do governo angolano conseguiu liminar para permanecer no Brasil. Eles, que perderam a visão na guerra civil, moram no Instituto Paranaense de Cegos (IPC) em Curitiba desde 2001 e ficaram conhecidos nacionalmente pelo coral que formaram. A Fundação Eduardo dos Santos (Fesa), que concede bolsas de estudos ao grupo, determinou que os quatro adolescentes e sete adultos retornassem ao país nesta semana.
Por meio de ação civil pública, o Ministério Público estadual garantiu a permanência dos 11 cantores por considerar que o pedido de retorno não estava fundamentado, já que eles não terminaram os estudos nem têm contato com a família. Os jovens vieram para Curitiba por convênio com o governo angolano. O objetivo do intercâmbio é que eles estudassem e se profissionalizassem, já que em Angola o amparo aos deficientes visuais é mínimo. Não existe o ensino de braille e a maior parte dos meninos era analfabeta.
Os jovens não querem retornar neste momento em função da falta de condições para os deficientes em Angola. A intenção deles é ficar no Brasil, ingressar na universidade e só então retornar. Eles afirmam que só assim poderão ajudar a reconstruir o país. "Sou o primogênito. Represento uma esperança de vida melhor para a minha família. Não quero ser um peso, quero ajudar meu país", diz Wilson Madeira, de 22 anos.
Wilson chegou em Curitiba com 15 anos sem saber braille. Já terminou o ensino médio e pretende ingressar na faculdade de Direito. O estudante perdeu a visão aos 4 anos, vítima de granada. Um integrante de uma milícia contrária ao governo resolveu se vingar do pai de Wilson, que é militar, e ofereceu a bomba para o jovem e seus primos, que morreram. Maurício Tchope, de 19 anos, perdeu a visão porque teve sarampo. Faltavam condições médicas ao país que estava no meio da guerra civil. Ele perdeu o contato com a família há sete anos. No futuro o jovem pensa em cursar Administração. "O Brasil é minha segunda casa, foi o país que me acolheu", diz.
O presidente do IPC, Manuel Cardoso Passos, afirma que a maior preocupação é a readaptação do grupo em Angola, que carece de estrutura para portadores de deficiência. "Eles vieram estudar e se profissionalizar", lembra a promotora de Defesa dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência, Daniele Cavali Tuoto. "Precisam ter garantias de um futuro."
Madeira diz que o grupo pretende se profissionalizar para criar um instituto de cegos para o país. A assessoria da Fesa afirmou que pretende solucionar o impasse, mas o responsável pelo caso não foi encontrado.