Com cenário clean (um sofá, uma vitrola e quatro paredes cenográficas), o diretor Rafael Gomes valorizou em Gotas d’Água Sobre Pedras Escaldantes os corpos dos atores e seus movimentos. O resultado é uma homenagem à peça de mesmo nome de Rainer Fassbinder (1945–1982), escrita nos tenros 19 anos do alemão e nunca encenada por ele.
O que teria o cineasta de Berlin Alexanderplatz a dizer naquela idade? Como quase tudo nas artes é feito a várias mãos, o texto ficou conhecido com o filme de François Ozon (Gouttes d’Eau Sur Pierres Brûlantes, de 2000) que contém uma cena considerada a coreografia mais engraçada da história do cinema (para os padrões europeus. Lembra-se da dança do Príncipe Charles no carnaval brasileiro?) Mas não é essa dança, e sim outra, a aposta de Gomes em sua versão para o palco.
No enredo, um rapaz (Franz, vivido por Felipe Haidar) de 19 anos decide morar junto com um homem de negócios (Leopold, na pele de Luciano Chirolli) a quem ninguém resiste. Suas diferenças rapidamente vêm à tona, o que piora quando as ex-namoradas deles, Anna (Nana Yazbeck) e Vera (Gilda Nomacce) entram no apartamento.
Aquele “lar” revela a decadência das pessoas que o habitam, o que é indicado pelo “cenário vivo”, nas palavras do diretor. “A essência é realista, mas aos poucos extravasa para criar uma linguagem diferente”, contou Gomes à Gazeta do Povo.
Junto com o cenário inteligente, a trilha sonora pop poderá ser um atrativo para fãs de criadores teatrais cujas histórias passam por Curitiba e que servem de referência para Gomes: Marcio Abreu e Felipe Hirsch. (HC)
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