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Essa é a primeira vez que o Glauco me deixa muito, muito triste. Desde que o li pela primeira vez, ele sempre me garantiu diversão e fascínio. "De nariz grande a pau pequeno, tenho todos os complexos", dizia Geraldão, o personagem mais famoso dele. Um cara com seus quase 30 anos de idade, inútil e apaixonado pela mãe e que gostava de surfar dentro de seu apartamento mesmo, em cima de uma tábua de passar roupa. Seus desenhos cheios de pernas e braços, denotando várias atividades ao mesmo tempo, em uma agitação alucinada se tornaram ícones da cultura brasileira. Glauco é como aquelas bandas novas que surgem de repente e mudam a história do rock com uma obra original e inovadora. Quando o Glauco apareceu, ele demoliu o tipo de humor de tom sisudo e traços carregados que vinha se fazendo até então, com um escracho e uma leveza de desenho inéditos, bem a ver com a "abertura política" que se vislumbrava naquele momento no País. A pedra singular que alterou a trajetória do trabalho de tantos cartunistas, entre eles Angeli e Laerte, que se livraram dos tentáculos imobilizadores do humor partidário da esquerda, era uma charge que mostrava um homem acorrentado em uma masmorra, esticando o dedão do pé para passar a mão na bunda do carrasco. Aquele desenho foi o ponto de partida para o tipo de humor que se veria nos anos 80, com as revistas Chiclete com Banana, Piratas do Tietê e Geraldão. Humor de costumes e de comportamento, e não mais humor politizado e partidário. Ao invés de generais e políticos engravatados, os assuntos agora eram liberação sexual, drogas e rock’n’roll. Até hoje. Graças ao Glauco.

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