Nem todos conseguem seguir a dieta
"Tinha procurado todas as opções da medicina tradicional e nada deu conta de meus problemas de saúde, que envolviam tireoide, diabete, depressão e intoxicação por metais", relata a professora Magali Maldonado Canavezi, de Iguaraçu, no Norte do Paraná. Porém, desde que iniciou a dieta do tipo sanguíneo, ela se sente muito melhor. "Não tive dificuldade de adaptação, partiu de mim querer levar a sério o tratamento", diz. Ela afirma que, de vez em quando, come alimentos não recomendados para seu tipo sanguíneo, sem abusos.
Problemas de saúde também foram o motivo para o aposentado maringaense Antonio Fritzen procurar a dieta há três anos. "Estava muito mal, bastante gordo, com reumatismo, não aguentava nem andar mais", relembra. Ele melhorou o quadro de saúde e perdeu 23 quilos. Do tipo O, ele parou de comer derivados de leite e glúten. "O mais difícil foi tirar o pãozinho", diz. Agora, está caminhando normalmente e faz trabalhos manuais em sua chácara. "Às vezes como um dos alimentos proibidos e já me sinto mal."
Já a estudante de Design da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) não se adaptou à dieta. "Restringia tudo o que eu gostava de comer", diz Bárbara Corrêa, que tem sangue tipo A e teria de ficar sem comer carne vermelha. "Aguentei só dois dias, não me convenceu", diz. "Hoje como o que quero, não sigo dieta, pois sinto que não adianta ficar se restringindo demais", afirma.
No Japão, é comum ouvir em conversas introdutórias o questionamento "qual é o seu tipo sanguíneo?". O chamado "horóscopo sanguíneo" é crença de alguns japoneses, que pautam o sucesso de seus relacionamentos por compatibilidades entre pessoas conforme o tipo de sangue seja A, B, AB ou O, como se fossem signos astrológicos. Mas será que a crença japonesa faz sentido?
Para uma corrente da Naturopatia, o tipo sanguíneo pode influenciar não só a personalidade como o metabolismo, a saúde, a suscetibilidade a doenças e os tipos de alimentos que as pessoas podem ingerir. A ideia ganhou força com a publicação do livro Viva Melhor com a Dieta do Tipo Sanguíneo (Editora Campus, 2001), do naturopata americano Peter DAdamo, publicado em 1996.
"Adamo começou a perceber que alguns de seus pacientes não tinham resultados satisfatórios com outras dietas", conta Eva Hermann, doutora em Naturopatia de Blumenau, Santa Catarina. "Todos os alimentos contêm elementos constitutivos como aminoácidos, vitaminas, sais mineiras e também lectinas proteicas. Algumas delas podem ser incompatíveis com a genética individual, conforme o tipo sanguíneo", acrescenta a terapeuta ortomolecular Emília Pinheiro, portuguesa radicada em Maringá, autora de Dieta Pelo Tipo Metabólico e Sanguíneo. Segundo Emília, o termo "dieta" é necessário por falta de terminologia adequada. "Mas prefiro programa alimentar adequado", diz.
Classificação
São três as classificações dos alimentos estabelecidas na obra de Adamo: benéficos, que funcionam como remédio; neutros, que não fazem bem nem mal e podem ser consumidos em pequenas quantidades (no máximo 150 gramas por dia); e nocivos, que devem ser evitados, pois o corpo não se adapta a esses alimentos. "É como se houvesse uma máquina para cortar papel, cortando uma lâmina de alumínio", explica. A carne vermelha, por exemplo, é considerada péssima para os que têm sangue A e um remédio para quem é do tipo O.
Segundo o livro, o tipo sanguíneo também pode estabelecer tendências ao desenvolvimento de determinadas doenças. "Não significa que as pessoas de outra tipagem não possam contrair determinadas doenças, mas sim que terão mais ou menos dificuldade de combater as doenças", diz Emília. Eva explica que, por exemplo, o tipo O é mais suscetível a problemas na tireoide, por não absorver bem o iodo. "É preciso sempre se alimentar com fontes naturais do mineral como rúcula e algas", diz. Quem tem sangue do tipo A pode ter tendência a uma imunidade frágil, problemas cardíacos e diabete. Pessoas do tipo B podem ter tendência ao desenvolvimento de doenças auto imunes e câncer. "O tipo AB ainda é uma incógnita em algumas patologias, mas também tem tendência às auto imunes", diz Eva.
Medicina tradicional é contra
Para profissionais da Medicina e da Nutrição, a dieta apresenta pouco efeito. "Não há nenhuma influência do tipo sanguíneo na saúde", diz Silmara Aparecida de Oliveira Leite, professora de Endocrinologia da Universidade Positivo. "Independentemente do tipo sanguíneo, a dieta terá uma restrição específica e a pessoa vai emagrecer", explica. Segundo ela, não há relatos na literatura médica que estabeleçam relação entre o tipo sanguíneo e a flora intestinal, que poderia influenciar na absorção de alimentos. Silmara comenta que essa é uma entre 2,8 mil dietas registradas. "É uma área de muita vulnerabilidade do ser humano: as pessoas tendem a se agarrar a um álibi", comenta.
"Nutricionistas não trabalham com esse tipo de dieta; fazemos adaptação a cada indivíduo", explica Helena Maria Simonard Loureiro, professora de Nutrição da Universidade Federal do Paraná. Segundo ela, é sempre seguido o padrão estabelecido na Organização Mundial da Saúde (OMS) de consumir alimentos de grupos variados de maneira saudável. "Quando você tem uma rotina alimentar e a modifica, normalmente terá um resultado positivo, mas não podemos garantir que seja por conta do princípio da dieta e sim por que houve mudança", explica. Segundo ela, dietas de restrição acabam refletindo a longo prazo com carências nutricionais, como osteoporoses e anemias.
Interatividade:Você conseguiu perder peso ou melhorar a saúde restringindo o consumo de alimentos com base no seu tipo sanguíneo? Conte a sua experiência!
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