O pai do menino Bernardo Boldrini, assassinado aos 11 anos de idade em abril, no interior do Rio Grande do Sul, disse em audiência de conciliação realizada em fevereiro deste ano que o garoto deveria continuar vivendo na sua casa.
Durante a audiência, a Justiça e o Ministério Público sugeriram que Bernardo passasse a morar com a avó materna, Jussara Uglione. "Essa seria a pior", respondeu o médico Leandro Boldrini. "Esse guri deve ficar na minha casa", completou.
O médico foi intimado pelo juiz Fernando Vieira dos Santos, da Vara da Infância e da Juventude de Três Passos (a 389 km de Porto Alegre), depois que Bernardo esteve no fórum para pedir ajuda. Bernardo relatou ao juiz problemas com o pai e com a madrasta, Graciele Ugulini, e pediu para morar com a avó materna ou com um casal vizinho da família, Juçara e Carlos Petry.
Leandro gravou a conversa com seu aparelho celular. O áudio foi recuperado pela perícia depois de ser removido e divulgado pelo site G1 nesta quarta-feira (9).
Durante a audiência, o juiz classifica a situação de "inusitada" e diz que nunca tinha sido procurado por uma criança no fórum. "Foi algo que me tocou", disse Santos.
O juiz falou que Bernardo também foi encaminhado ao Ministério Público, onde já havia "um expediente em andamento desde novembro de 2013". Além disso, o Conselho Tutelar e o colégio onde Bernardo estudava já haviam procurado o Ministério Público para relatar a situação do garoto.
"Tivemos o cuidado de fazer essa intimação hoje temendo que o Bernardo sofresse algum tipo de represália, talvez até de um constrangimento em relação à família", disse o juiz na audiência realizada em fevereiro.
De acordo com o juiz, Bernardo contou que o pai não gostava quando o garoto "se queixava".
Na gravação, Leandro é lacônico e fala pouco. Nas poucas vezes em que se manifesta é para contrariar a possibilidade de guarda da avó materna. Leandro alega problemas familiares entre a avó e a ex-mulher Odilaine, que se suicidou em 2010. A advogada que está com Leandro fala que a avó tinha problemas com o consumo de álcool.
Leandro também rejeita a possibilidade de Bernardo ficar com "tio Carlinhos e tia Ju" porque seriam "apenas amigos" da família.
Tanto a promotora Dinamárcia Maciel, também presente na audiência, como o juiz chamam Leandro de "doutor" e se referem a ele como "pessoa conhecida, respeitada". Os dois são cuidados ao abordar as denúncias feitas por Bernardo, mas o juiz deixa claro que não se trata de um simples desentendimento entre pai e filho. Leandro não responde ao comentário.
Segundo juiz, há "uma certa indiferença paterna e uma agressividade da madrasta". Santos determinou que uma nova audiência fosse realizada dali a 90 dias para averiguar a situação, mas Bernardo foi assassinado antes.
O garoto desapareceu em 4 de abril e foi encontrado enterrado em uma cova em 14 de abril em Frederico Westphalen (a 364 km de Porto Alegre).
Audiência
Na manhã desta terça-feira (9), a mãe de Evandro Wirganovicz e Edelvânia Wirganovicz, que confessou ter cavado o buraco para enterrar o corpo de Bernardo a pedido da madrasta dele, falou em audiência em Rodeio Bonito (a 342 km de Porto Alegre).
Segundo o Tribunal de Justiça, a mãe afirmou que a filha "não é má pessoa" e que ela foi convencida por Graciele a colaborar no crime. A mãe disse que as ferramentas usadas para abrir o buraco onde Bernardo foi enterrado foram deixadas na sua casa pela filha.
Edelvânia disse, segundo a mãe, que estava abrindo uma "canalização" em um terreno comprado pela mãe.
A mãe afirmou ainda que Evandro não está envolvido com o crime: "Meu filho é inocente. Ele está pagando pelo que ele não deve".
O caso
Edelvânia Wirganovicz esteve presente mais uma vez à audiência. Ela está presa e afirma que ajudou Graciele a ocultar o corpo do garoto após sofrer "pressão psicológica". Seu irmão, Evandro Wirganovicz, também é acusado, mas nega participação no crime.
O pai de Bernardo nega qualquer participação no crime, e a madrasta diz que a morte foi acidental, após erro na dosagem de um calmante dado por ela ao enteado.
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