A proposta de que o cidadão separe e leve o material reciclável até um contêiner adaptado, em vez de ficar esperando o caminhão do Lixo que não é lixo passar na porta de casa, parece estar num ritmo mais lento do que o esperado pelo município. A primeira Estação de Sustentabilidade, instalada para atender três bairros da capital Boa Vista, Cabral e Bacacheri , completa dois meses hoje, com pouco mais de 2,3 mil quilos de resíduos coletados (o volume informado pela prefeitura refere-se até o último dia 20).
A capacidade do contêiner é de 5,7 mil litros. Catadores da Associação Futuro Ecológico, do bairro Parolin, responsável por buscar o material, reclamam do baixo volume de resíduos, que "não paga a gasolina da Kombi".
Chefe de um dos sete grupos da associação, formada por 22 catadores, Luciano dos Santos relata que, até poucos dias, eles buscavam o reciclável na estação a cada 10 ou 15 dias. Agora, segundo ele, a prefeitura está exigindo que a coleta seja feita três vezes na semana. "Não temos condições de fazer assim. Só duas pessoas têm Kombi. E o material lá, a cada 10 dias, dava abaixo de R$ 30. Uma vez na semana já não compensa", reclama.
O temor de Santos e de outros colegas é de que a prefeitura corte o material do Lixo que não é lixo caso descumpram as três coletas semanais. "Eles ligaram agora, disseram que a imprensa está indo lá filmar, e que vão cortar as outras doações [de resíduos] da prefeitura e de mercados, caso a gente não busque três vezes por semana."
Assessor de um grupo de catadores da Futuro Ecológico, Edimar Camargo acredita que uma boa conversa com o município pode resolver o imbróglio. "É preciso bom senso de ambas as partes. É a primeira estação, está no início. A divulgação está sendo bacana. Semana que vem podem abrir mais estações, e todos os lados seriam beneficiados. É minha opinião como um cidadão que paga impostos, não como representante de ninguém."
Camargo não soube dizer quanto a associação arrecadou com a venda do material da Estação de Sustentabilidade, mas garante que o valor do material está em baixa. "O que tem mais volume lá é garrafa, que é R$ 0,06 o quilo. Cada material tem um valor específico, mas é sempre baixo. A latinha baixou bastante, porque tem muita, funciona da mesma forma que o resto do mercado", explica. Separação ainda não segue rigorosamente as orientações
Instalada à esquerda de quem desce a rápida do Boa Vista, no cruzamento da linha do trem (na Rua Flávio Dallegrave), a primeira Estação de Sustentabilidade de Curitiba ainda é pouco conhecida pela população dos bairros do entorno. Em busca do endereço na semana passada, o carro da reportagem parou em três diferentes pontos, nas imediações do Cabral, pedindo referências, mas as pessoas afirmavam desconhecer o contêiner para depositar materiais recicláveis.
Apesar da limpeza e organização do local, as orientações de separação dos materiais não é rigorosamente seguida pela população. No compartimento de papelão, havia sacola de mercado com tecido dentro, pedaços de plástico e livros didáticos. Papelão, plástico e embalagem metálica de bombom foram depositados junto aos papéis coloridos. No espaço reservado a papéis brancos, encartes de propaganda e folhas coloridas. "Vem misturado, separamos aqui [no barracão]. Até tem [os compartimentos para] separação, mas papel é tudo papel. E, para nós, cada um é diferente", conta Luciano dos Santos.
Metais, cabos elétricos, plástico, papelão e jornal ocupavam o mesmo compartimento no dia em que a reportagem visitou o local. Embora haja um dispositivo para amassar as garrafas PET, todas são depositadas inteiras no espaço, ao lado de embalagens de produtos de limpeza e de bolos.
Proprietária da empresa que fica em frente à Estação, Ana Maria dos Santos, 52 anos, relata que diariamente pessoas depositam materiais. Segundo ela, a separação é feita ali na hora, sem maiores problemas. "Uma vez por semana trago também, só os resíduos que aceitam aqui", diz a moradora do Tingui, que também usa os serviços do Lixo que não é lixo para o restante dos resíduos recicláveis da casa.