Efluente pode ser usado na agricultura
Ao saber do projeto de reaproveitamento da água da Estação de Tratamento de Esgoto Atuba Sul, da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), o professor do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Miguel Mansur Aisse comentou que é uma "surpresa agradável".
O efluente de boa qualidade pode ser usado na irrigação agrícola e urbana, em indústrias e no controle da poeira das ruas.
Para Aisse, o que precisa ser muito bem avaliado é o aspecto econômico da distribuição dessa água. Segundo ele, a Sanepar deverá determinar um raio de ação viável e definir um ou mais usuários. "É preciso identificar até que distância vale a pena distribuir", diz ele.
Essas questões só serão consideradas pela companhia de saneamento quando ela tiver domínio completo sobre o novo processo de tratamento.
Sobre a produção de energia, Aisse menciona que, quanto mais diversificada a matriz energética, menos frágil ela é. Ele lembra que a busca pelas fontes não convencionais sempre aparece em momentos de crise. É o que aconteceu na década de 1980, com a crise do petróleo. Agora, completa, existe também a preocupação ambiental. "O metano é 21 vezes mais comprometedor para o clima do que o carbono", cita o professor.
Para Aisse, o uso interno na energia produzida é mais interessante porque evita gastos com o transporte. Mas, se houver excedente, o ideal é a distribuição pela companhia de energia, no caso a Copel, sugere ele. (VF)
A Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) está investindo R$ 2,5 milhões na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Atuba Sul, em Curitiba, para gerar energia elétrica e térmica a partir do gás metano e também para fazer o reaproveitamento da água, um dos mais volumosos subprodutos do tratamento do esgoto.
O presidente da empresa, Stênio Jacob, diz que a companhia está buscando alternativas para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e também os custos com energia elétrica. Os estudos apontam que essa unidade poderá deixar de emitir cerca de 18 mil toneladas anuais de gás carbônico e economizar aproximadamente R$ 360 mil por ano em energia elétrica. Já a água, completa, após passar por novo tratamento, poderá ser usada em instalações industriais, irrigação agrícola, de grama e de jardins, paisagismo e ainda na lavagem de ruas.
O processo mais adiantado é o de reuso da água. As obras, que consumiram R$ 1,3 milhão, já estão concluídas. A estação onde será feito o tratamento está pronta e ainda este mês devem ser concluídos o laboratório, as instalações elétricas e colocados em teste os equipamentos de tratamento, segundo Jacob. Inicialmente serão tratados 15 litros por segundo do efluente. O tratamento é feito com ozônio e também será utilizado carvão ativo granulado, para retirar os compostos presentes no efluente. Em laboratório, serão pesquisadas, a partir de julho, as condições de tratabilidade para essa água e as complementações necessárias. Jacob explica que a produção de água de reuso vai obedecer a demanda, no início, e por isso não está definido o volume total a ser tratado.
De acordo com o presidente da Sanepar, durante as pesquisas, a produção dos 15 litros por segundo de água de reuso será consumida na ETE Atuba Sul. Ela será usada no próprio processo: na lavagem de pisos e no preparo da solução dos produtos químicos para tratamento dos esgotos sanitários, por exemplo. Os técnicos da Sanepar também planejam pesquisar outros procedimentos, como retirar compostos como amônia e cloreto para permitir a utilização mais nobre desta água, que seria as lavagen de pisos, combate a incêndio, uso industrial e irrigação de jardins, por exemplo.
Jacob diz que a utilização externa dessa água só se dará após serem realizados todos os ensaios de tratabilidade que comprovem um domínio completo sobre o novo processo de tratamento adotado. A Sanepar ainda não definiu seu plano de trabalho em relação à produção excedente. As questões comerciais, de acordo com o presidente, estão em estudo.
Energia
O sistema para o aproveitamento energético deve entrar em operação em março de 2010, informa Jacob. Os projetos executivo, estrutural e elétrico estão sendo contratados e o investimento previsto é de R$ 1,2 milhão. "Com o aproveitamento energético do biogás devemos gerar energia elétrica suficiente para tratar todo o esgoto que chega à estação, e energia térmica para secar o lodo gerado no processo de tratamento do esgoto", afirma o presidente. "A nossa expectativa é que a ETE Atuba Sul se torne autossuficiente em energia elétrica e, no futuro, possa gerar excedente a ser comercializado para a Copel". A estação consumiu, no ano passado, uma média de 90 mil kWh/mês.
Um projeto semelhante foi implantado na Estação de Tratamento de Esgoto Ouro Verde, em Foz do Iguaçu. Desde o ano passado, aquela unidade produz energia elétrica, inclusive com certificação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A energia produzida e consumida pela ETE supera a necessidade. Por isso, a partir deste mês o excedente será vendido para a Copel.
Unidade trata 800 litros por segundo
A produção de energia elétrica e térmica e o reaproveitamento da água serão feitos, num primeiro momento, somente da Estação de Tratamento de Esgoto Atuba Sul. A Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) tem seis estações em Curitiba. Se for considerada toda a região metropolitana, são 25 unidades.
A ETE Atuba Sul trata cerca de 800 litros de esgoto doméstico por segundo, correspondentes a 370 mil habitantes. O tratamento é feito pelo processo de digestão anaeróbia e um dos subprodutos é o biogás. Trata-se da mistura de vários gases, sendo o mais importante o gás metano. Ele tem alto poder calorífico, podendo ser utilizado como combustível para gerar energia térmica, mecânica ou elétrica, e é um dos principais gases de efeito estufa, causador do aquecimento global.
A ETE Atuba Sul produz diariamente cerca de 4 mil metros cúbicos de metano, e aproximadamente 840 toneladas de lodo por ano. O lodo, após higienizado, é aplicado na agricultura. Com a instalação do sistema de secagem térmica de lodo, por meio da queima do biogás, haverá redução nos gastos com higienização e transporte do lodo.
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