Dinheiro financiará fundação
Parte do dinheiro (R$ 1 milhão) que será pago pelo governo do estado à família Zanella deve ser usada na criação e manutenção de uma instituição de apoio a vítimas de abusos policiais. A intenção é, por meio da Fundação Rafael Zanella, contratar psicólogos e advogados para pessoas que sofreram com excessos policiais. "A fundação vai fazer o que o poder público não fez conosco e que deveria ser seu papel: prestar auxílio a quem sofre com esse tipo de violência", ressalta Elizabetha Zanella.
Indiretamente, a família já vem prestando essa assessoria. "É comum as pessoas que sofrem agressão de policiais ligarem aqui para casa e pedir ajuda", informa Tiago Zanella, irmão de Rafael. A família relata que já tem 30 famílias credenciadas para montar a fundação. Elizabetha espera que o caso de seu filho se transforme em um exemplo de que quem sofre agressões de policiais não deve se intimidar e levar o caso até o fim. "Espero também que o poder público se conscientize de que deve ser mais exigente na contratação de seus servidores, para que outros casos como esse, envolvendo policiais completamente despreparados, não aconteçam", complementa. (MXV)
O Tribunal de Justiça do Paraná (TJ) publicou, ontem, no Diário Oficial da Justiça, a sentença de indenização de R$ 1 milhão por parte do governo estadual à família do estudante universitário Rafael Rodrigo Zanella, morto aos 20 anos em uma abordagem policial, há dez anos. Além da família Zanella, a decisão beneficia Odair Ferreira da Silva e Marcos Ostrowski Valduga, dois dos três amigos que estavam no carro em que o rapaz foi assassinado cada um receberá R$ 100 mil. O terceiro rapaz que estava com Rafael no momento do disparo move ação em separado.
O crime aconteceu por volta das 21 horas do dia 28 de maio de 1997. Quando dirigia seu carro para jogar futebol com amigos, Rafael foi abordado pelos policiais civis Airton Adonski e Reinaldo Siduovski e pelo informante Almiro Deni Schmidt, no bairro de Santa Felicidade, em Curitiba. Ao parar o carro, Rafael foi atingido com um tiro na cabeça, morrendo na hora.
Após a abordagem, os policiais e o informante autor do disparo tentaram encobrir o assassinato, alegando que Rafael teria reagido. Eles afirmaram ainda que o estudante estava traficando drogas. Para montar a encenação, os policiais colocaram um revólver na mão do rapaz já morto, além de implantar uma quantidade de maconha em sua roupa. Por conta disso, os três envolvidos foram condenados os policiais por forjarem provas e tortura e o informante por homicídio.
A mãe de Rafael, Elizabetha Zanella, considera que mais importante do que a indenização é o fato de a Justiça ter comprovado a inocência do filho. "Nenhum dinheiro do mundo vai devolver o Rafael, mas a honra dele foi resgatada. Ele nunca teve envolvimento com drogas", ressalta. Sobre o valor da indenização, Elizabetha considera justo, já que por sete anos a família foi alvo de perseguições dos policiais que tentaram de várias formas envolver a família em outras denúncias. Em 2005, Elizabetha foi acusada de receptação de contrabando a família é proprietária de uma distribuidora de cigarros , mas até agora nada foi comprovado contra ela. Elizabetha ainda afirma que o processo que a acusa de receptação de cigarros contrabandeados desapareceu. "Nesse anos não tivemos condições psicológicas de trabalhar e só não quebramos porque tínhamos excelentes funcionários que tocaram a distribuidora", recorda Elizabetha.
César Zanella, pai de Rafael, lembra ainda que teve que fechar a oficina mecânica de que era proprietário por medo que os policiais envolvidos no caso implantassem um carro roubado no estabelecimento para incriminá-lo. "Eles tentaram nos incriminar de todas as formas. Foram sete anos de ameaças", afirma César.
Condenação
A sentença de condenação do estado foi expedida em dezembro de 2005. Por ordem do governador Roberto Requião, em documento despachado em março do ano passado, o estado não recorreu da decisão. À época, o governador ainda ordenou o pagamento da indenização.
Agora o advogado da família, Júlio Militão, vai encaminhar à Justiça o pedido para que o valor da indenização entre no orçamento do estado de 2008. Para isso, ele precisa entrar com a ação até junho. "Como a indenização será feita por precatório, é possível que a família não receba o valor ainda no ano que vem", aponta Militão.
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