Duas diferentes teorias sobre fenômenos climáticos longos e cíclicos têm sido usadas por pesquisadores para explicar a queda significativa no volume de água que entrou no Sistema Cantareira na última década. Tanto a tese que considera a temperatura do Oceano Pacífico quanto a dos ciclos solares concluem que a região do manancial atravessa um período de estiagem previsível, que deve durar ao menos mais dez anos.
Sistema Cantareira opera há 1 ano só com volume morto
Se o volume morto é o cheque especial, como afirmam especialistas em recursos hídricos, faz um ano que o Sistema Cantareira estourou seu crédito e sobrevive no vermelho. Foi no dia 11 de julho de 2014 que o estoque de água que fica acima do nível das comportas, chamado volume útil, se esgotou de vez.
Desde então, toda água captada pela Sabesp para abastecer parte da Grande São Paulo sai da reserva profunda das represas. Inédita, essa captação, contudo, já havia começado antes, em 16 de maio, na Represa Jaguari-Jacareí, na região de Bragança Paulista, porque o estoque nela acabou antes.
Segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), se chover dentro da média nos próximos meses, o volume morto se recupera em 200 dias. Até ontem, contudo, só havia chovido 44% do esperado para o mês de julho.
“Esta última década está inserida na fase fria da oscilação decadal do Pacífico, que começou em 1999 e tem o efeito de um El Niño ou La Niña de longa duração, até 30 anos. Ela é marcada por uma redução das precipitações, como se tivéssemos um mês chuvoso a menos do que na fase quente”, explica o professor da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador da Rede Internacional de Estudos Sobre Meio Ambiente e Sustentabilidade, Pedro Luiz Côrtes.
Segundo ele, essa fase seca deve durar pelo menos até 2025, o que dificultará a recuperação do Cantareira. Um estudo feito por Côrtes projeta que o manancial só deve atingir um nível de segurança, de 38% da capacidade sem incluir o volume morto, em oito anos. “As fases frias e quentes do Pacífico têm impacto direto nas vazões dos rios. Por isso chamo atenção para que esse prognóstico climático de médio e longo prazo seja incluído na nova forma de operação do sistema”, diz.
O diretor do Departamento de Recursos Hídricos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Antonio Carlos Zuffo, vê nos ciclos solares, que influenciam a circulação atmosférica e a temperatura oceânica, a explicação para eventos climáticos extremos no mundo, como a seca do Cantareira.
Segundo ele, a temperatura máxima média da Terra apresenta tendência de queda desde 1998 - embora 2014 tenha sido o ano mais quente da história, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) -, semelhante à observada entre 1930 e 1970, que coincide com o período mais seco da região do Cantareira até a atual crise de estiagem.
Zuffo diz que o sistema foi concluído em 1974 e suas dimensões definidas com base em um período seco, de baixas precipitações, enquanto que sua operação pelos 30 anos seguintes ocorreram em período predominantemente chuvoso, aumentando os riscos de enchentes. Ele alerta que cenário inverso ocorre desde a outorga de 2004.
“O comportamento se repete. De 1930 a 1970, as precipitações caíram; de 70 até 2003, aumentaram. E, agora, de 2004 para cá, têm caído novamente. Então, temos ainda mais três décadas em que as chuvas devem diminuir e ficar abaixo da média.” Segundo a Sabesp, a chance de uma seca como a de 2014 ocorrer era de 0,004.
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