O secretário da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná Wagner Mesquita afirmou que o setor inteligência do estado interceptou e identificou o racha entre as facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) há cerca de quatro meses no sistema penal paranaense.
O rompimento entre as duas facções é a provável origem do massacre entre presos que deixou um rastro de 56 mortes dentro do Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus, na disputa entre a facção paulista e a Família do Norte, outro grupo organizado, aliado do Comando Vermelho no estado do Amazonas.
“Essa guerra que está acontecendo [em Manaus] já tínhamos identificado meses atrás. Nós informamos a comunidade da inteligência e passamos as informações para outros estados. Fizemos remoções. Nós nos preparamos para essa realidade”, afirmou o secretário, em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo na noite desta terça-feira (3). Todos os estados sabiam da disputa entre as facções criminosas.
O titular da pasta não chegou a mencionar a quantidade de remoções realizadas no estado para evitar problemas no sistema penitenciário. Sabe-se, no entanto, que é muito pequena a atuação da facção carioca nos presídios locais.
O Paraná é historicamente um estado com grande atuação do PCC. Em 2013, o Ministério Público de São Paulo chegou a afirmar publicamente sobre a participação de detentos do estado na estrutura do crime organizado paulista.
“Pipas”
Segundo Mesquita, a identificação do racha entre as facções foi feita por meio de “pipas” — pedaços de papel com mensagens que circulam entre presos, parentes e visitantes. Mesquita, que é delegado da Polícia Federal, contou ainda que essas “pipas” informavam que era para acabar com qualquer trabalho em conjunto entre as duas facções. “Essa orientação foi passada pelo comando de São Paulo para outros integrantes do PCC para que não trabalhassem mais com o CV e outras facções. Nós as interceptamos”, explicou.
As facções mantinham trabalho em conjunto como logísticas de carregamento de drogas, tráfico de armas, com divisão de custos e outros gastos. Tudo para baratear o custo e diminuir os riscos, usando uma vez o processo para duas quadrilhas.
O titular da pasta explicou, no entanto, que as “pipas” foram apreendidas passando pelas mãos de pessoas do alto escalão da facção no estado. Por isso, principalmente, é que a atenção da polícia ficou focada nestes documentos naquele momento.
“Apreendemos de um lado, apreendemos de outro. Virou um informe de inteligência. Estavam na mão de pessoas específicas com poder de mando”, comentou. O motivo do racha entre as facções, segundo o secretário, ainda não foi descoberto.
Jorge Rafaat Toumani
A morte de um dos principais narcotraficantes da fronteira, Jorge Rafaat Toumani, 56 anos, em julho foi um dos sinais mais claros do início do racha entre o PCC e o CV. De acordo com reportagem da Folha de São Paulo, Rafaat foi morto a tiros na noite da última quarta-feira (15) no centro de Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia onde morava, na fronteira com Ponta Porã (MS).
“(A interceptação das “pipas” aconteceu) Logo depois da morte do Rafaat. Já era reflexo do racha”, explicou. Apesar disso, de acordo com reportagem da Folha de São Paulo, em junho do ano passado, a polícia paraguaia suspeitava que a execução de Rafaat tinha sido planejada pelo PCC, que buscava se estabelecer na fronteira em parceria com o suposto “barão da droga” Jarvis Ximenes Pavão. Os paraguaios também não descartavam a participação do CV no assassinato de Rafaat.
Mesquita admite ação controlada para monitorar ligações
- Diego Ribeiro
O secretário Wagner Mesquita admite que uma estratégia importante no controle das facções dentro dos presídios é a ação controlada na interceptação de telefones celulares. Apesar disso, ele é contra permitir que celulares entrem de forma proposital para ajudar as investigações. Mas, se o celular for descoberto, ele não vê problemas em retardar sua apreensão para colaborar nas investigações.
“Deixar o aparelho entrar acredito que não se deva fazer. O aparelho pode ser usado para mandar matar alguém, mas se estou com investigação em andamento, descubro que o aparelho existe, há um instrumento legal chamado ação controlada. Se descobre o celular, a polícia pode retardar a apreensão do aparelho”, diz.
A estratégia é usada contra um dos principais problemas na hora de combater o crime organizado: a comunicação entre seus integrantes. Para o secretário, o trabalho contra as facções jamais acabará porque as quadrilhas sempre se multiplicarão dentro do sistema organizado por elas ao longo da história.
“A forma de comunicação é um dos maiores dificultadores. Nada acontece na rua, uma morte de um agente, por exemplo, sem correr a estrutura hierárquica do crime organizado”, explicou Mesquita. De acordo com ele, outro problema é a atuação de má fé de advogados e a colaboração de parentes. “É difícil investigar advogado, separar até que ponto ele está defendendo seu cliente ou viabilizando o trabalho do crime organizado”, mencionou.
O Paraná, contudo, tem se fortalecido na especialização no combate as facções dentro de presídios. Há alguns anos uma força-tarefa ente Polícia Federal e polícias estaduais trocam informações com um núcleo do próprio Departamento de Execução Penal do estado. Mesmo a favor das ações controladas, o secretário afirmou trabalhar para instalar bloqueadores de sinal dentro dos presídios, mesmo que atrapalhe investigações.
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