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Em casa, Marly Caron Pinto , 76 anos, recebe os cuidados da equipe do SAD | Antônio More/Gazeta do Povo
Em casa, Marly Caron Pinto , 76 anos, recebe os cuidados da equipe do SAD| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Uma estratégia de gestão de saúde permitiu liberar mais de 600 vagas de hospital ao ano em Curitiba e levou qualidade de vida para os pacientes que passaram a ser atendidos em casa por equipes médicas. É o Serviço de Atenção Domiciliar (SAD), que existe na cidade desde 2012. Trata-se de um programa do governo federal, instituído em 2011, e que está presente em 339 municípios brasileiros. A estimativa é de que, ao mês, o SAD é responsável por liberar 3,3 mil leitos hospitalares.

Curitiba conta com dez equipes formadas por médico, fisioterapeuta, enfermeiro e técnico de enfermagem e mais três equipes de apoio, com nutricionista, farmacêutico, fonoaudiólogo e assistente social. Além de liberar vagas em hospital para casos mais graves, o programa ainda diminui a exposição a problemas como o risco de infecção hospitalar. Chamado também de “Melhor em Casa”, não se trata de uma equipe de cuidados paliativos – quando o paciente não tem chance de recuperação e vai para casa para passar os últimos momentos de vida no conforto do lar.

São casos como o de Jhonatan Marinho Gomes, 25 anos, que teve esmagamento de medula e perdeu temporariamente o movimento das pernas. Ele sofreu um acidente de moto em abril e ficou oito dias na unidade de terapia intensiva. Depois que saiu do coma, ainda ficou mais três semanas internado. Lesionou quatro vértebras na região torácica e não podia correr o risco de um movimento errado, que poderia agravar a situação. Depois de passar pelo hospital de reabilitação, Gomes recebeu a indicação de que poderia continuar o tratamento em casa, apesar de se tratar de um caso complexo e delicado. Uma vez por semana recebe a visita da equipe médica. Ele conta que já consegue mexer um pouco uma das pernas. “São três a seis meses para descomprimir o inchaço na coluna, mas tenho chance de voltar a andar”, diz.

A equipe do SAD começa a acompanhar os pacientes antes mesmo de eles deixarem o hospital. Os profissionais são convidados a ir à unidade hospitalar para avaliar a indicação da alta. “Já saímos com o histórico do paciente”, comenta Janaina Haider, a primeira médica do SAD em Curitiba. Dependendo do trânsito, cada equipe consegue fazer, em média, quatro atendimentos por dia. Na maior parte dos casos, a visita é semanal. Em casos mais complexos a frequência aumenta. Alguns pacientes com pneumonia, por exemplo, precisam de atendimento diário, para aplicação de medicação na veia. São 360 pessoas atendidas, em média, por mês.

O secretário municipal de Saúde, César Monte Serrat Titton, afirma que, com o SAD, o sistema de saúde é parcialmente desafogado e há também há a questão financeira. Mais da metade dos gastos são custeados pelo governo federal. O repasse – quando não atrasa, como aconteceu recentemente – é de cerca de R$ 500 mil ao mês. Assim que forem vencidos entraves burocráticos, a intenção de Curitiba é chegar a 18 equipes do SAD – que é o limite máximo, estabelecido em uma equipe para cada 100 mil habitantes.

“É como um hospital sem muros”, resume. O secretário explica que o programa também garante mais sustentabilidade para os hospitais, que dependem financeiramente do valor pago por internação e conseguem, com o SAD, liberar leitos.

Como o programa melhora a qualidade de vida de doentes

Marly Caron Pinto chegou aos 76 anos independente e ativa, do tipo que vai para todo lado de Curitiba. Mas essa história começou a mudar em fevereiro deste ano, quando foi atropelada por um carro perto do Sesc da Esquina, no Centro. Ela quebrou o fêmur e a bacia.

Quando estava no processo de recuperação da cirurgia ortopédica, pegou uma infecção por bactéria e acabou internada por 45 dias.

Acamada, apareceram feridas em função de uma doença vascular congênita que até então não havia se manifestado. O caso foi se agravando até que Marly teve uma parada respiratória e precisou passar por uma traqueostomia (perfuração feita na garganta como canal alternativo para a respiração). Foram 15 dias na Unidade de Terapia Intensiva. Também passou por procedimentos de enxerto de pele. Em todo esse período, a filha Viviane Tiépolo ficou de acompanhante no hospital, revezando o atendimento com outros parentes, que tiveram de reorganizar a vida para auxiliar Marly.

Foi aí que surgiu a oportunidade de ela receber atendimento domiciliar. Desde que teve a alta antecipada, em meados de agosto, Marly já recebeu duas vezes a equipe do SAD. Os profissionais fazem a limpeza da traqueostomia e trocam os complexos curativos das feridas, além da avaliação clínica da evolução do enxerto de pele e de outros aspectos de saúde, como a pressão arterial.

“Se não fosse o programa, estaríamos no hospital. E não tem como substituir o aconchego do lar. Em casa, com ajuda da equipe, a gente se sente mais segura para lidar com a situação”, comenta Viviane.

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