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Estação da Sanepar: companhia prefere não comentar o estudo e ressalta qualidade dos processo de purificação da água | Aniele Nascimento / Gazeta do Povo
Estação da Sanepar: companhia prefere não comentar o estudo e ressalta qualidade dos processo de purificação da água| Foto: Aniele Nascimento / Gazeta do Povo

Controle

Associação diz monitorar substâncias detectadas por estudo

Das quatro substâncias detectadas pelo estudo do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas, sediado no Instituto de Química da Universidade de Campinas, pelo menos duas delas já causam preocupação na Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), um dos órgãos responsáveis pela formulação da Portaria 2.914.

"A atrazina e o triclosan são monitorados, mas não temos informações de um número elevado. Caso seja identificado algo nocivo, há a possibilidade de incluirmos na portaria", diz Ellen Pritsch, diretora da Abes.

Apesar de ressaltar que a concentração de cafeína encontrada na água potável é pequena e não traz riscos à saúde humana, a engenheira química revela que a substância é nociva, por exemplo, à vida marinha: "Em mananciais, a cafeína pode causar toxicidade para alguns organismos aquáticos", admite.

Ainda de acordo com a Abes, a portaria do Ministério da Saúde foi elaborada para contemplar substâncias que têm reconhecido efeito nocivo na saúde. Além disso, diz a associação, existem milhares de substâncias que podem estar presentes na água e que precisam apenas ter suas rotinas controladas.

Resposta

Empresas garantem que seguem o que diz a legislação

As companhias de tratamento e distribuição de água potável de Curitiba e das três capitais cuja água potável está mais contaminada por cafeína – Porto Alegre, São Paulo e Belo Horizonte – disseram atender rígidos critérios de qualidade e seguir normas da portaria que trata do assunto.

O Departamento Municipal de Águas e Esgotos (Dmae) de Porto Alegre informou que não analisaria tecnicamente o estudo por que ele ainda não está concluído. De qualquer forma, o órgão ressaltou que a Portaria 2.914 não estabelece limites para a concentração de cafeína na água.

Mesmo argumento utilizou a Sabesp, responsável pelo tratamento e distribuição da água em São Paulo, que ainda ressaltou a falta de comprovação da nocividade da cafeína ao ser humano. "A legislação não determina valor limite para os compostos citados no estudo justamente porque tais compostos não possuem toxicidade comprovada para o ser humano", diz trecho da nota enviada pela empresa.

Já a Companhia de Sanea­­mento de Minas Gerais (Copasa) e a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) preferiram não comentar o estudo e apenas ressaltam suas qualidades nos processos de purificação da água distribuída à população. A empresa paranaense, inclusive, enfatizou sua participação na elaboração da Portaria 2.914, enquanto a mineira ressaltou que realiza mais de 1 milhão de análises mensais em seus laboratórios.

"A presença [da cafeína]na água é um indicativo de que o processo de tratamento de água não está conseguindo remover outros compostos."

Marco Tadeu Grassi, químico coordenador do grupo de Química Ambiental da Universidade Federal do Paraná.

Um estudo coordenado pela Universidade de Campinas (Unicamp) na água potável de 16 capitais do Brasil, onde vivem 40 milhões de pessoas, indicou a presença de substâncias químicas não legisladas, principalmente a cafeína, em 92% das amostras coletadas. Apesar de não apontar riscos claros à saúde humana, os pesquisadores envolvidos garantem que os resultados indicam deficiência no tratamento da água e que o efeito nocivo desses compostos ainda está por ser definido.

De acordo com a pesquisa, coordenada pelo Instituto Nacional de Ciências e Tec­­nologias Analíticas Avan­­çadas (INCTAA), sediado no Instituto de Química da Unicamp, foram encontradas concentrações consideráveis de cafeína nas 49 amostras realizadas, além de concentrações do herbicida atrazina, do laxante fenolftaleína e da substância triclosan, encontrada em produtos de higiene.

Nenhuma dessas substâncias está presente na Portaria 2.914, publicada pelo Ministério da Saúde em dezembro do ano passado para definir critérios de segurança para a distribuição da água. Por isso, o resultado da pesquisa e os riscos dos compostos à saúde humana dividem especialistas.

Responsável por comandar os estudos na Região Sul, o químico Marco Tadeu Grassi reconhece que a constatação da cafeína na água potável das capitais brasileiras não deve causar um alarme na população, mas criar um sinal de alerta nas distribuidoras de água.

"A cafeína, por si só, não é um risco para a saúde pública, porque a concentração dela em um cafezinho é muito maior. Mas a presença dela na água é um indicativo de que o processo de tratamento de água não está conseguindo remover outros compostos", diz Grassi, coordenador do grupo de Química Ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

A opinião, porém, é ponderada por Delmo Vaitsman, coordenador do Laboratório de Desenvolvimento Ana­­lítico do Instituto de Quí­­mica da Universidade Fe­­deral do Rio de Janeiro (UFRJ). "As estações de tratamento estão voltadas para a eliminação de metais pesados e substâncias inorgânicas. Precisaríamos de muito mais estudos científicos para caracterizar um composto como contaminante", diz o químico.

Em entrevista ao portal da Unicamp, o coordenador do estudo, o químico Wilson Jardim, lembra que já existem tecnologias disponíveis para remover contaminantes não legislados da água, mas admite que o processo é oneroso. "É claro que um investimento desse tipo pode encarecer o custo de produção da água potável, mas temos que considerar que essas substâncias podem trazer sérias sequelas não apenas ao ser humano exposto, com também aos seus descendentes", afirmou em entrevista à universidade.

Caso Jardim esteja certo, as populações que mais devem se preocupar com o estudo do INCTAA estão em Porto Alegre, São Paulo e Belo Horizonte, capitais que apresentaram índices de contaminação por cafeína entre 32 e 166 nano gramas por litro de água.

De acordo com Grassi, a atrazina foi detectada em amostras de 14 das 16 capitais, mas em concentrações menores do que a cafeína: de 0,6 a 6 nano gramas por litro. O valor máximo do hormônio apareceu justamente em umas das amostras coletadas em Curitiba. Já a fenolftaleína e o triclosan foram detectados em baixas concentrações em duas capitais, respectivamente, Palmas e Porto Alegre.

Consumidora só bebe água da torneira

Enquanto boa parte da po­­­pulação mundial adere à água mineral para matar a sede, uma argentina de Buenos Aires, radicada em Curitiba há seis anos, decidiu beber apenas água potável. Alheia ao estudo que indica a presença de substâncias não legisladas na bebida, ela deixou de comprar as garrafinhas plásticas por não confiar nos sistemas de controle de qualidade das empresas do setor.

"A indústria da água mineral cobra, pelo menos, R$ 1,20 por uma água que tem menos controle de qualidade do que aquela da torneira", defende Natalia Gavotti, 35 anos, que trabalha na área de tecnologia da informação em uma fábrica automotiva de Curitiba. Ela se refere à garrafinha de 510 ml.

Apesar da resistência de Natalia, dados da Associação Brasileira de Indústria de Águas Minerais (Abinam) mostram que o mercado da água mineral cresce em ritmo acelerado. A produção de água engarrafada no Brasil passou de 1,5 bilhão de litros em 1995 para 9 bilhões em 2011 – um crescimento de 500% que levou o setor a arrecadar mais de R$ 2 bilhões apenas no ano passado.

Apesar dos altos números, o consumo per capita do produto no país ainda é baixo em relação a outros centros do mundo. Em 2010, os franceses beberam 132 litros per capita de água mineral enquanto no Brasil essa conta não passou de 45 litros. A Abinam estima que os brasileiros devam chegar ao mesmo patamar do atual consumo da França em dez anos.

Entre esses consumidores está Neide Fiani de Assis Batista, 72 anos, que há dez anos deixou de beber água da torneira por julgá-la contaminada. Ela reconhece, porém, não saber de onde veio essa informação. "Devo ter lido ou ouvido alguém falar, mas sempre achei que fosse [contaminada]", diz a aposentada, que tanto na sua casa, no bairro Mercês, em Curitiba, quanto na rua, só bebe água mineral.

Argumentos que Natalia rebate: "Larguei a água mineral logo que cheguei a Curitiba e nunca passei mal", diz a argentina, que ainda ressalta outro problema da água engarrafada. "No Atlântico Norte há uma ilha de plástico por que o lixo sai da sua frente, mas não do mundo". De acordo com a Abinam, 43% da produção brasileira ainda são distribuídos em embalagens descartáveis.

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