Reconhecimento
Mapeamento ajuda a descobrir legado dos imigrantes do Paraná
Uma das equipes de estudantes da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) será reconhecida na tarde de hoje como a que melhor trabalhou no levantamento dos dados arquitetônicos e históricos da Rua Trajano Reis. A cerimônia ocorre no câmpus de Engenharia da instituição, da qual participam representantes do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc).
"Nós, enquanto prefeitura, não podemos fazer o levantamento destes imóveis que são de propriedade particular. Mas, com o trabalho desses alunos, vamos conseguir uma série de elementos sobre o que existe na rua e que pode nos ajudar no projeto de revitalização do centro da cidade", afirma o arquiteto do Ippuc Mauro Magnabosco.
Imigração
A professora Giceli Portela, arquiteta que coordena os alunos, lembra da importância de a universidade se preocupar com o município onde está instalada. "Temos, por obrigação primordial, de olhar para nossa cidade. Com este trabalho, vamos concentrar nosso conhecimento sobre o que temos por legado: as casas construídas por nossos antepassados a imigração paranaense, com suas ferramentas e bagagens culturais tão diversas", diz.
Giceli recorda que esta parceria com a prefeitura já aconteceu outras vezes, quando universitários saíram por Curitiba pintando muros e fazendo levantamentos sobre as praças da cidade. "Nosso objetivo é sensibilizar os estudantes e apresentá-los aos problemas das intervenções nos centros das cidades. Eles precisam saber como enfrentar o futuro, quando lhes couber projetar respeitando o patrimônio histórico."
O projeto pretende mapear todos os imóveis mais importantes historicamente falando do São Francisco e, depois, se estender para outras regiões. A próxima rua deve ser a Saldanha Marinho.
Pesquisa
Saiba qual será o destino dos desenhos e das maquetes desenvolvidos no trabalho encabeçado pelos alunos de Arquitetura da UTFPR:
Acervo
Os desenhos farão parte do acervo da UTFPR, servindo de material didático para todos os estudantes de vários cursos que de alguma maneira pesquisem o patrimônio.
Prefeitura
O Ippuc ficará com uma cópia dos projetos, servindo como base de dados e informações técnicas para futuras intervenções e melhorias no bairro.
Proprietários
Os donos dos imóveis também receberão uma cópia do que foi feito pelos estudantes como gratificação por gentilmente terem aberto a casa e contado suas histórias.
As curtas cinco quadras da Rua Trajano Reis, em Curitiba, escondem histórias da cidade que só seriam descobertas com ações como a desempenhada por estudantes de Arquitetura da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Batendo palma na frente das residências mais antigas ou em busca dos proprietários, os alunos têm levantado aspectos históricos e arquitetônicos de imóveis construídos no final do século 19 e início do 20, época em que reinava a arquitetura eclética.Com trena, prancheta e caneta nas mãos, os acadêmicos redesenharam as casas muitas das quais tinham perdido o projeto original. Entre uma canetada e outra, colheram os dados históricos que estavam escondidos por trás das fachadas ornamentadas. O resultado da pesquisa são nove maquetes construídas para preservar a memória arquitetônica da rua e projetos que poderão ajudar os proprietários e a prefeitura a repensar uma maneira de preservar os imóveis de interesse histórico para a cidade.
Na Trajano Reis, esquina com a Paula Gomes, duas antigas residências são a prova de que a rua era um bom lugar para se morar. São casas imponentes, uma era da família Leal (onde hoje funciona o centro de educação profissional do Colégio Martinus) e outra da família Maleski. A primeira residência foi ocupada nos anos 1920, quando a casa foi adquirida pelo casal Maria e Francisco Leal, de Piraquara, para que os filhos pudessem estudar na capital paranaense. A outra, desocupada, foi construída em 1914 pela família Maleski e permanece como herança da família.
Portas abertas
Um dos herdeiros se entusiasmou com a presença dos alunos porque, com o projeto encabeçado por eles, pretende restaurar o imóvel. A última pessoa que viveu na casa foi Dirceu Silva Bertoni, que faleceu há dois anos. A prefeitura também demonstrou interesse pelo imóvel, pela importância da residência, mas não teve acesso à construção. Com as portas abertas, os estudantes conseguiram detalhar as peças da casa e ficaram surpresos com o que encontraram.
Na verdade, a casa ainda está na parte interna tal como o antigo dono a deixou: móveis de imbuia de boa qualidade, coleção de óculos Rayban, roupas antigas no armário. O pé-direito da casa tem 3,8 metros (o que é raro encontrar em Curitiba, por causa do frio). E, apesar de a residência hoje ser conhecida pelas pichações e pela quantidade de cartazes colados em sua fachada, parte dos cômodos foram ocupados na década de 1950 por um açougue, uma lotérica e um bar.
A casa, antes da iniciativa dos estudantes, estava fechada há um ano. "É uma das mais bonitas da rua. Os detalhes construtivos impressionam porque as portas são encaixadas na parede com uma técnica que não existe mais", conta a estudante Laís de Oliveira, uma das que levantou os dados arquitetônicos do imóvel.
A menos de uma quadra dali está outra residência que chegou a ser pensão de travestis nos idos dos anos 1980. Apesar dos dados históricos serem poucos sobre esta casa, a artista plástica Sonia Tissot publicou na internet uma foto dela em frente da residência e disse que ali viveu durante a infância. "Seria legal conseguirmos mais dados para completar as informações históricas", afirma a universitária Caroline Rocha Bastos. No próximo semestre, os imóveis históricos da Rua Saldanha Marinho serão alvo do mesmo trabalho: rumo à conservação.
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