Apesar de estar baixo em relação à média histórica, o volume de chuvas na primeira estiagem do século 21 em Curitiba ainda não atingiu níveis alarmantes, se comparado a outros 11 períodos críticos ocorridos nos últimos 84 anos. A conclusão é de um estudo do Departamento de Hidrologia da Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (Suderhsa), órgão ligado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Paraná. O levantamento tomou por base o período entre 1922 e os primeiros seis meses de 2006.
No mês passado, a média de chuvas, feita com base nos cinco meses anteriores, foi de 47 milímetros. Na pior seca registrada na capital, em 1963, a média atingiu 25 mm em agosto. Em 1985, no mesmo mês, foi registrado 36 mm. Entretanto, alerta o geógrafo Nílson Antônio de Morais, um dos autores do estudo, a diferença é que o atual quadro de estiagem ainda está em andamento e sua evolução é uma incógnita. "O levantamento comprova que o período do ano com a menor tendência de chuva vai de abril a agosto. Mas como não temos os dados deste mês, porque ele ainda não terminou, não sabemos o que pode ocorrer", explica. Mas a julgar pela ocorrência mínima de chuva nos primeiros 20 dias de agosto e a previsão pessimista dos meteorologistas para a próxima semana, a situação pode sim se agravar.
Segundo Morais, embora a estiagem atual não tenha alcançado os piores índices em Curitiba, as conseqüências da seca deste ano "são sentidas com mais intensidade devido ao desenvolvimento econômico e ao crescimento demográfico". Em 1968, por exemplo, ano que registrou quatro meses de seca entre junho e setembro, a população da capital era de 600 mil habitantes. Hoje são 1,75 milhão. Já na região metropolitana (RMC) havia pouco menos de 300 mil moradores, contra quase 1,5 milhão hoje. Apesar dos investimentos feitos na área, o crescimento acelerado da população aumentou a demanda e a seca sobrecarregou o sistema.
Para o engenheiro civil Édson José Manassés, chefe do Departamento de Hidrologia, a falta de chuvas piora o quadro, mas não a única responsável pela estiagem. Ele conta que quatro fases formam o ciclo hidrológico: a chuva propriamente dita; infiltração da água no solo; escoamento para rios e lençóis subterrâneos; e evaporação. A seca atual é influenciada pela segunda e terceira fases. "A urbanização impermeabiliza o solo e a água não se infiltra. Quando chove, ao invés de escoar até os lençóis freáticos a água vai rapidamente para os rios", explica Manassés. Antes, os reservatórios de água naturais que ficam escondidos no solo abasteciam os rios por um período enquanto a chuva não voltava. "Hoje, a água escorre direto para os rios, causando enchentes, e depois vai embora", completa o engenheiro.
O levantamento da Suderhsa sobre as precipitações nos últimos 84 anos aponta três períodos distintos com maior ou menor ocorrência de chuvas em Curitiba. Morais afirma que a média histórica nos 84 anos foi de 1.444 mm, de acordo com os dados coletados pela Estação Pluviométrica de Curitiba. "O primeiro ciclo aponta uma tendência de chuva abaixo da média e durou 24 anos. No segundo houve uma tendência em torno da média histórica e se prolongou por 47 anos. Já partir de 1993, verificamos um aumento no volume de chuvas, acima da média, que durou até 2003", detalha Morais. Nesse último período, a média de precipitações foi de 1.713 mm.
A partir de 2003, depois de dez anos, o gráfico pluviométrico na capital voltou a cair, sinalizando uma possível queda acentuada no volume de chuvas nos próximos anos, a exemplo do que ocorreu entre 1922 e 1945. Mas para os autores da pesquisa da Suderhsa, é cedo para falar em um novo ciclo de chuvas escassas na capital e RMC. "É uma interrogação. A gente não sabe realmente o que vai ocorrer daqui por diante e seria precipitado prever anos piores do que esse", afirma Manassés, que explica que o levantamento tem valor puramente histórico e de esclarecimento da opinião pública.
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