Soluções arquitetônicas adotadas no projeto e na execução de obras podem colaborar na segurança pública. É o que aponta a pesquisa, a ser publicada em livro ainda neste ano pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), intitulada "A Prevenção do crime através da arquitetura", de autoria do tenente-coronel Roberson Luiz Bondaruk, comandante do Regimento de Polícia Montada da Polícia Militar (PM) do Paraná.
No levantamento, o tenente-coronel pesquisou a arquitetura das 100 casas e dos 100 estabelecimentos comerciais mais visados por criminosos em Curitiba e na região metropolitana, durante o ano de 2005. Só as residências sofreram 391 delitos, entre furtos simples e qualificados, roubos e violações de domicílios.
A pesquisa demonstra que a maioria desses crimes teve colaboração essencial da arquitetura dos imóveis. Prova disso é o fato de o assalto à mão armada ficar em penúltimo lugar entre os seis meios mais utilizados na prática dos crimes, com apenas 8% (31 casos).
Em todos os outros casos, a arquitetura inadequada colaborou: 33% dos delitos (129 casos) ocorreram com escalada de muro e arrombamento; 27% (105 casos) com escalada; 18% (70 casos) com arrombamento; 12% (46 casos) por meio do portão aberto e 2% (10 casos) com o uso de chave falsa (mixa).
A casa mais assaltada, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), alvo quatro vezes dos ladrões no ano passado, é um exemplo de como a arquitetura pode colaborar na ação dos bandidos. "O criminoso conseguia entrar por um muro lateral de apenas um metro de altura e tinha toda a sua ação encoberta por outro muro alto, de 2,5 metros, em frente à residência", relata o oficial.
Adaptações
Basicamente, argumenta o tenente-coronel, três elementos arquitetônicos devem caminhar juntos para amenizar a ação da criminalidade: acessibilidade para o trânsito de pedestres, visibilidade e cuidados na disposição dos elementos construtivos. Ele chegou a essa constatação após entrevistar 287 detentos condenados por furto, roubo e violação de domicílio. Com base neste levantamento, diz que os criminosos evitam locais com grande fluxo de pessoas. Entre os seis motivos elencados por eles que facilitavam a ação, 36% afirmaram que locais com pouco trânsito de pessoas são os preferidos.
Dessa forma, ressalta Bondaruk, a manutenção da calçada é fundamental.
Em relação à visibilidade, 23% dos detentos afirmaram preferir locais com obstáculos que dificultam a visão de testemunhas, como muros altos. Além disso, 13% disseram ter escolhido o local pela baixa luminosidade.
Dos elementos construtivos, Bondaruk aponta que a simples disposição deles pode ser um atrativo ou uma barreira ao ladrão. Na pesquisa, 6% dos detentos afirmaram que preferem locais onde não há obstáculos a serem transpostos. Como exemplo, ele cita a localização da lixeira. "Se estiver muito próxima do muro, ela serve de trampolim para o criminoso invadir a residência."