Renda média de R$ 27, percurso entre 21 e 30 quilômetros e um peso que varia de 150 a 170 quilos todos os dias. Esses são alguns números levantados pela Cooperativa de Pesquisas Mercadológicas do Paraná (Coopesquisas) a partir de um levantamento feito com catadores de materiais recicláveis na Regional Cajuru, em Curitiba. Foram ouvidos 750 carrinheiros, entre janeiro e abril deste ano. O estudo foi encomendado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e os resultados deverão ser divulgados nos próximos dias. A idéia agora é fazer o levantamento em outras regionais. Para isso, a cooperativa procura parceiros, que podem ser a prefeitura de Curitiba, o governo do estado ou a iniciativa privada.
"Procuramos identificar as formas mais adequadas de organização e uma maneira de mantê-los nas associações", comenta a presidente da cooperativa, Cleusa Lima. A pesquisa procurou identificar o perfil socioeconômico dos carrinheiros, o tempo de residência, a situação civil, o número de integrantes de cada família, o grau de escolaridade, a região percorrida diariamente e o acesso dos catadores a educação, energia elétrica e água potável.
Um dos dados que chamaram a atenção de Cleusa Lima foi a origem dos catadores da Regional Cajuru. Segundo ela, 60% vêm do interior do estado e 32% são de Curitiba mesmo. Ela também destaca a existência de uma espécie de "código de ética" entre os profissionais. "Todos fazem a mesma rota todos os dias. Já sabem o horário de cada um", afirma.
Entre as reclamações dos papeleiros está a disputa com o caminhão do Lixo Que Não É Lixo, da prefeitura, e a mistura de materiais recicláveis e orgânicos. "Eles querem que a sociedade se preocupe mais com a organização do lixo, que não é separado de forma adequada. Além disso, o Lixo Que Não É Lixo tira a maior parte do ganho deles."
Meia-maratona
Pelo menos 20 quilômetros por dia. É o que percorre o catador de materiais recicláveis Roberto Hening, 39 anos. Todos os dias ele sai da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) e vai até a Praça Rui Barbosa, no Centro da cidade. Um percurso de quase dez quilômetros, que faz há cerca de cinco anos. "Demoro uns 40 minutos para ir até o Centro", calcula. Para Hening, o pior da profissão é competir com o caminhão do programa Lixo que não é Lixo, da prefeitura. "Eles roubam nosso material. Mas pego muito de loja, o pessoal já me conhece."
Para outro catador da regional CIC, João Luís Pereira, 48 anos, o melhor da atividade é não ter chefes. "Trabalhei em várias empresas, hoje não tenho chefe", comemora. "É muito cansativo. Se for para sair e não voltar com o carrinho cheio, não vale nem a pensa sair de casa."