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São Paulo - As recomendações do governo brasileiro para o rastreamento do câncer de mama na população – mamografia a partir dos 50 anos, com intervalo de, no máximo, dois anos – ganharam força com a divulgação ontem do estudo norte-americano que faz as mesmas orientações. Espe­cialistas do país, no entanto, continuam defendendo o modelo de rastreamento antigo dos EUA, que vigorava desde 2002: mamografias a partir dos 40 e com intervalos anuais.

O painel de médicos do United States Preventive Task Force, grupo que assessora o governo dos EUA em assuntos de prevenção, anunciou que mamografias precoces e muito frequentes têm levado à realização de biópsias, cirurgias e sessões de quimioterapia desnecessárias. Por isso a orientação de iniciar o rastreamento aos 50 anos – e não aos 40 – e reduzir a frequência. Em muitos casos, os tumores revelados demorariam tanto para se desenvolver que jamais causariam problemas, disseram os médicos.

O painel condenou ainda o autoexame das mamas – orientar a mulher a apalpar os seios em busca de nódulos – como método de rastreamento do câncer de mama na população em geral. O entendimento é de que, em muitos casos, a metodologia também leva a intervenções desnecessárias, ansiedade e confusão da paciente. O Brasil já tinha a mesma posição.

"O Inca recomenda, desde 2003, mamografias a partir dos 50 anos, realizadas a cada dois anos, assim como agências do Canadá e da Europa. Os EUA fizeram uma revisão, com nova metodologia, e agora se alinharam aos demais países", avaliou Ana Ramalho Urtigão Fares, gerente da Divisão de Apoio à Rede Oncológica do Instituto Nacional do Câncer (Inca).

A gerente destaca, porém, que não há limitação à realização de mamografia em qualquer idade se o médico encontrar sinais de câncer e achar que ela é necessária para o diagnóstico. A idade para rastreamento serve apenas para orientar a política pública de saúde.

Custos

Isaac Fermann Neto, mastologista do Hospital Santa Catarina, acha que as medidas dos EUA são típicas de um país que pretende cortar gastos após uma recessão econômica. "É um fa­­tor econômico, de um país em crise com seu sistema de saúde", diz. Felipe Andrade, mastologista do Hospital Sírio-Libanês, concorda. "Esses trabalhos populacionais ligados à rede pública observam custos e seguem a linha de ‘gastei muito para salvar poucas vidas’", explica. "Mas temos de salvar o máximo que conseguirmos."

Roberto Vieira, membro da Sociedade Brasileira de Masto­logia e pesquisador da Fiocruz, considera que as novas orientações tratam a população apenas como estatística. "Não podemos desvalorizar uma mulher porque ela é jovem ou muito idosa. Como médico e cientista, acho revoltante."

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