Quase o dobro dos pacientes tratados com placebo relatou alívio de sintomas| Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo

São Paulo - Para a maioria das pessoas, o efeito placebo é associado ao poder do pensamento positivo. Ele funciona porque o indivíduo acredita que está tomando uma droga real, mas um novo estudo coloca em xeque essa metodologia.

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Pesquisadores do Centro de Pesquisa Osher da Escola de Medicina de Harvard e do Centro Médico Beth Israel Deaconess descobriram que os placebos funcionam mesmo quando administrados sem que os pacientes sejam "enganados". O estudo foi publicado pela revista PLoS ONE.

As pílulas de placebo normalmente são usadas em ensaios clínicos como controle para potenciais medicamentos. Mesmo que não contenham ingredientes ativos, os pacientes costumam responder a elas. Como o "engano" é eticamente questionável, o professor Ted Kaptchuk uniu-se a colegas para averiguar se o poder desse tratamento pode ser aproveitado de forma honesta e respeitosa.

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Para isso, 80 pacientes que so­­­­frem de síndrome do intestino ir­­­­ritável foram divididos em dois gru­­­­pos: um não recebeu tratamento, enquanto o outro recebeu placebos, descritos como "pílulas de açúcar". Eles foram instruídos a tomá-las duas vezes ao dia.

"Não só deixamos absolutamente claro que as pílulas não tinham ingrediente ativo e eram feitas de substâncias inertes, como realmente estampamos ‘placebo’ na embalagem", contou Kapt­chuk. Os pacientes foram monitorados por um período de três semanas. Até o final do estudo, quase o dobro dos pacientes tratados com o preparado inativo relatou alívio dos sintomas, em comparação ao grupo que não recebeu tratamento – 59% contra 35%.

Os pacientes que tomaram placebo ainda duplicaram as taxas de melhoria em um grau mais ou menos equivalente ao efeito dos medicamentos mais poderosos contra a síndrome.

"Eu não achei que iria funcionar", disse o pesquisador Anthony Lembo. "Eu me senti estranho ao receitar placebo aos pacientes. Mas, para minha surpresa, parece que funcionou para a maioria deles."

Os autores advertem que o estudo é limitado e apenas abre portas para a rediscussão do uso de placebos. A hipótese ainda precisa ser confirmada em estudos mais abrangentes.

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