O estudo aponta o aumento do consumo de cocaína no Brasil, o tráfico e a falta de tratamento de esgoto como causas da constatação| Foto: Divulgação/Fiocruz
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Pesquisadores das universidades federais de Santa Catarina (UFSC) e do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), encontraram cocaína nos organismos de 13 tubarões-de-nariz-afiado (Rhizoprionodon lalandii) capturados na costa do Rio de Janeiro. 

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Ainda, de acordo com a pesquisa, que foi publicada nesta terça-feira (23) na revista Science of The Total Environment, em 12 dos 13 tubarões capturados foi confirmada a presença de benzoilecgonina, uma substância que resulta do metabolismo da cocaína no organismo após processamento do fígado.

A pesquisa também mostrou que as maiores concentrações de cocaína foram encontradas nos organismos das fêmeas.

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A espécie foi escolhida para o estudo devido ao seu pequeno tamanho e hábitos costeiros, o que a deixa sujeita a descargas significativas de contaminantes.

Os pesquisadores também destacaram que a espécie é "caracterizada por alta fidelidade do local e movimentos limitados em grande escala" e "tem o potencial de refletir com precisão as condições ambientais na área de estudo".

Por fim, os pesquisadores defendem que sejam feitos novos estudos para investigar se a cocaína encontrada nos animais pode ter reflexos negativos na saúde humana.

Segundo o estudo, a presença da substância nas amostras de músculo e fígado dos animais se explica pelo aumento exponencial do consumo da droga no Brasil, pelo tráfico e pela falta de tratamento adequado dos esgotos.

Esgoto

Citandos estudos anteriores, os pesquisadores disseram que análises de esgoto abrangendo mais de 60 milhões de indivíduos de 37 países entre 2011 e 2017 revelaram a presença de cocaína em ambientes aquáticos.

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"Tanto a cocaína quanto seu principal metabólito, benzoilecgonina, foram detectados em amostras de esgoto, variando de 3,7 a 1200 ng L−1 para cocaína e 29 a 2700 ng L−1 para benzoilecgonina, nos EUA, Canadá, Espanha, Polônia e Turquia”, diz um trecho da pesquisa. 

“Nas águas superficiais, as concentrações de cocaína foram relatadas como variando de 0,3 a 134 ng L−1 e benzoilecgonina de 1,2 a 520 ng L−1 nos EUA, Bélgica e Hungria, enquanto o benzoilecgonina foi detectado no abastecimento de água na Suécia. Nos países da América Latina, a cocaína foi detectada em águas superficiais em concentrações de 62 a 2650 ng L−1, e benzoilecgonina de 139 a 1019 ng L−1. As maiores concentrações foram observadas no esgoto bruto”, diz outro trecho.

Drogas e crime

O estudo ainda cita como possíveis causas as “operações clandestinas de refino” e “pacotes de cocaína à deriva não recuperados por vendedores e autoridades, que podem se tornar fontes pontuais intensas de cocaína para água” que podem ser “mordidos ou engolidos por peixes maiores, incluindo tubarões”.

Relatório mundial sobre drogas, publicado em 2024 pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, do nome em inglês), situa o Brasil entre os maiores consumidores globais de cocaína.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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