Com a licitação emperrada pela Justiça, a prefeitura continua pagando pelo uso dos radares da Consilux: solução dispendiosa| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Investigação

Auditoria que apurou irregularidades está parada no TCE

As denúncias de fraudes em radares veiculadas pelo programa Fantástico em março de 2011, que resultaram na rescisão unilateral do contrato que a prefeitura de Curitiba mantinha com a empresa Consilux, foram alvo de auditoria do Tribunal de Contas do Estado (TCE) iniciada ainda em maio daquele ano. A chamada "Comissão dos Radares" do Tribunal finalizou a inspeção no terceiro trimestre do ano passado, mas as conclusões da auditoria ainda não vieram à tona.

A demora em tornar público o conteúdo do relatório da comissão tem favorecido indiretamente a prefeitura, que continua pagando pelo uso dos aparelhos da empresa, em um repasse mensal de R$ 464,4 mil. Isto porque já se sabe, conforme balanço público de ações do Tribunal, que a auditoria constatou a "existência de indícios de fragilidades dos sistemas relacionados às ações de fiscalização eletrônica do trânsito de Curitiba" e previu aplicação de penalidade à Consilux.

A reportagem entrou em contato com a assessoria do TCE, mas, até o fechamento desta edição, não foram repassadas informações sobre os resultados da auditoria. A Gazeta também entrou em contato com a Consilux, mas a empresa não se pronunciou.

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Cronologia

O impasse envolvendo os radares de Curitiba completou dois anos em março:

Jan 2010 – A prefeitura anuncia a Consilux como vencedora da licitação para operar os radares. Equipamentos começam a funcionar em abril.

Mar 2011 – Após denúncia do Fantástico, prefeitura rompe o contrato com a Consilux.

Mai 2011 – Tribunal de Contas do Estado (TCE) institui comissão para apurar irregularidades nos radares e o contrato entre a prefeitura e a Consilux.

Dez 2011 – Prefeitura lança nova licitação dos radares. Os equipamentos da Consilux continuam sendo utilizados pelo município.

Jan 2012 – Consórcio Iessa-Indra-Velsis vence a licitação, mas o TCE e o Tribunal de Justiça (TJ) suspendem o resultado.

Fev 2012 – Justiça determina o prosseguimento da licitação, mas TCE suspende novamente a licitação um mês depois.

Mai 2012 – TCE cancela liminar que suspendia o edital dos radares.

Ago 2012 – Justiça suspende novamente a concorrência, mas volta atrás em setembro.

Nov 2012 – O TJ paralisa a licitação pela quarta vez.

Fev 2013 – Prefeitura diminui o repasse mensal feito à Consilux pela ocupação dos radares para R$ 464 mil. Na mesma data, é criado um grupo de trabalho para reavaliar o sistema de radares.

R$ 1,85 milhão já foi pago neste ano pela prefeitura de Curitiba à Consilux, devido à ocupação dos 196 radares de trânsito da empresa. O valor é referente a quatro parcelas de R$ 464 mil, de janeiro a abril. Em fevereiro, a prefeitura baixou o valor do repasse, que antes era de R$ 737,4 mil. A revisão teria obedecido a análises técnicas feitas pela Controladoria da Secretaria de Finanças e, na ocasião, foi aceita pela Consilux sem qualquer contestação.

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O estudo sobre o futuro dos radares eletrônicos em Curitiba foi finalizado no mês passado, mas as conclusões do grupo de trabalho criado pelo prefeito Gustavo Fruet (PDT) ainda são mantidas em segredo. O cancelamento da licitação atual, alvo de contestações judiciais, é uma das medidas que podem ser tomadas pela prefeitura.

INFOGRÁFICO: Veja as três opções para resolver o impasse dos radares de Curitiba

Oficialmente, o grupo criado em fevereiro teve como principal atribuição estudar as tecnologias disponíveis para radares e discutir qual seria a melhor opção para a cidade. O uso de equipamentos mais modernos seria um dos argumentos para lançar uma nova concorrência e ignorar o resultado anterior, que garantiu ao consórcio Iessa-Indra-Velsis o fornecimento e implantação dos aparelhos. Em junho do ano passado, o consórcio chegou a fazer testes nas ruas com os radares.

As três empresas, porém, não chegaram a instalar os radares, devido à ações do Tribunal de Justiça (TJ-PR) e do Tribunal de Contas do Estado (TCE) – a licitação foi congelada pela última vez em novembro. A série de contestações e embargos, que denunciam um suposto direcionamento do edital e a suposta ineficácia dos radares oferecidos pelo consórcio, tem pressionado a nova gestão da prefeitura a começar o processo do zero. Procurado pela reportagem, o consórcio afirma que irá se manifestar apenas após o anúncio oficial da prefeitura.

A própria revisão dos valores repassados mensalmente à Consilux, pela ocupação dos 196 radares hoje em funcionamento na capital, foi encarada como uma maneira de o município ganhar tempo para desatar o nó – desde o início do ano, a empresa tem recebido R$ 464 mil por mês, ao invés dos R$ 737,4 mil repassados até então.

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A ocupação dos equipamentos, após a rescisão unilateral do contrato que a Urbanização de Curitiba (Urbs) mantinha com a Consilux, é outro impasse ligado à paralisação da licitação atual. O que era para ser uma medida emergencial, até a contratação de uma nova empresa, tornou-se uma solução dispendiosa e já ocasionou o repasse de mais de R$ 17 milhões à Consilux, quantia que inclui tanto a indenização referente à rescisão quanto os valores mensais pagos pelo uso dos radares em funcionamento.

O fato é que a prefeitura nem cogita a hipótese de deixar de contar com os radares, mesmo que temporariamente. Ano passado, os equipamentos foram responsáveis por 28% das multas emitidas em Curitiba, alavancando a arrecadação total com as infrações, que chegou a R$ 37,9 milhões. No mesmo período, R$ 8,1 milhão foram gastos para "indenizar" a Consilux.

Especialistas defendem nova concorrência

A necessidade de lançar uma nova licitação para os radares em Curitiba parece ser consenso entre especialistas em mobilidade e Direito de Trânsito. Para o advogado Reginaldo Koga, o ideal seria que o grupo de trabalho instituído pela prefeitura levasse em consideração a atual realidade do município para buscar novas tecnologias, visto que o último edital foi lançado em dezembro de 2011. "O município e a população estão perdendo com a licitação emperrada, assim como as outras empresas concorrentes. A única beneficiada nisso tudo tem sido a Consilux, com a ocupação dos radares pela prefeitura."

Os pagamentos à Consilux, que se estendem desde a rescisão do contrato com a empresa, também são criticados devido à suposta falta de transparência no processo. "O município pode estar fazendo uma conta de mais ou menos em relação a quanto arrecada com os radares e quanto paga por isso. É preciso que todos saibamos qual é a real conveniência de manter a ocupação", afirma o engenheiro civil Eduardo Ratton, do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná.

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