Quando se derruba uma floresta ou se polui um riacho, além dos evidentes danos ambientais, há também perdas sociais e econômicas. Mas como dimensionar esse prejuízo? Para tentar descobrir quanto o Brasil perde quando o meio ambiente é prejudicado, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com instituições europeias, está elaborando um relatório sobre o valor dos ecossistemas e da biodiversidade nacional. O projeto-piloto, que deverá estar concluído no decorrer de 2001, servirá como referência para a tomada de decisões políticas e para o desenvolvimento de uma economia sustentável.
A proposta é semelhante ao estudo "A Economia de Ecossistemas e da Biodiversidade" (Teeb, na sigla em inglês), elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). O trabalho apontou o valor econômico das plantas, animais, florestas e ecossistemas, entre outros recursos naturais mundiais, assim como os custos ocasionados pela perda desses recursos. Segundo a pesquisa internacional, o custo anual da perda da biodiversidade oscila entre US$ 2 trilhões e US$ 4,5 trilhões (R$ 3,6 trilhões e R$ 8,2 trilhões).
Os valores não foram divididos por regiões, mas, na ocasião ainda respondendo como diretor do Departamento de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Dias salientou que a parte referente ao Brasil era "importante". "Temos as mais extensas florestas e convivemos com taxa grande de desmatamento", acentuou. Agora, como secretário de Biodiversidade e Florestas, ele espera que o levantamento nacional ajude a valorar o capital natural do país e aponte a contribuição da natureza para a subsistência em todos os níveis (do local ao nacional) e setores. "O Brasil precisa fazer o debate do custo-benefício de seus recursos naturais", diz.
O Teeb Brasil pretende servir de referência para políticas públicas e iniciativas do setor produtivo ao tomar decisões sobre agricultura, segurança alimentar, segurança energética e exploração de recursos naturais. A intenção do governo é conciliar estratégias de desenvolvimento e manutenção da biodiversidade. Para Dias, o estudo oferece boa orientação e uma mensagem poderosa para redefinir os padrões econômicos. "A abordagem do Teeb é útil para fazer com que [diferentes setores da sociedade] entendam as implicações da perda da biodiversidade e do retorno de investimentos [por conta da] conservação dessa biodiversidade", explica.
Para o economista sênior Pavan Sukhdev, coordenador das iniciativas relacionadas à economia ambiental do Pnuma, a abordagem do Teeb pode iniciar uma nova era, na qual o valor dos serviços da natureza passa a ser visível e se tornar uma parte crítica da tomada de decisões na política e nas empresas. Ou seja, governos e empresas passarão a computar as perdas causadas pela deterioração da natureza em seus orçamentos e PIBs. Um exemplo disso seria a redução de US$ 3,7 trilhões no dano causado pelo aquecimento global com a diminuição pela metade do desflorestamento até 2030, apontado pelo Teeb mundial. "Infelizmente, a ausência de uma lente econômica para refletir essas realidades tem significado que tratamos esses assuntos de forma negligente, que eles não são centrais nas discussões de política pública ou de negócios", avalia Pavan.