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Estudos apontam caminho para vacina universal contra gripe

Cientistas descobriram uma maneira de tornar os anticorpos mais eficazes para múltiplos subtipos do vírus da gripe | Pedro Ventura/Agencia Brasilia/Fotos Públicas
Cientistas descobriram uma maneira de tornar os anticorpos mais eficazes para múltiplos subtipos do vírus da gripe (Foto: Pedro Ventura/Agencia Brasilia/Fotos Públicas)

Há anos a ciência busca uma vacina universal para o vírus influenza, que seria capaz de proteger contra uma ampla gama de variedades de gripe. Agora, dois grupos diferentes de cientistas descobriram uma maneira de tornar os anticorpos mais eficazes para múltiplos subtipos do vírus.

O novo método forneceu proteção completa em camundongos e, segundo os autores, pode ser o caminho para a vacina universal contra a gripe. As duas pesquisas tiveram seus resultados publicados nesse domingo (23), simultaneamente, nas revistas Science e Nature.

Uma das principais características do vírus influenza, segundo os cientistas, é que ele se modifica constantemente e, por isso, as vacinas atuais precisam ser atualizadas anualmente. Uma vacina universal, segundo deles, poderia no futuro eliminar a necessidade de várias rodadas anuais de vacinação.

“Esse estudo mostra que estamos nos movendo na direção certa para uma vacina universal contra a gripe”, disse um dos autores do estudo da Science, Ian Wilson, professor do Instituto de Pesquisas Scripps, dos Estados Unidos.

Segundo Wilson, anualmente a gripe comum causa mais de 200 mil hospitalizações e 36 mil mortes só nos Estados Unidos. Embora a vacinação anual proteja contra algumas cepas do vírus, ela não faz efeito para vários subtipos do vírus que aparecem subitamente - como aconteceu em 2009 com o subtipo H1N1, conhecido como “gripe suína”, que matou entre 150 mil e 575 mil pessoas no mundo.

Vários grupos de pesquisadores já haviam desenvolvido vacinas cujo alvo é a molécula chamada hemaglutinina (HA), uma proteína que tem como principal função ligar o vírus ao receptor da célula hospedeira – e que está presente em todos os subtipos de influenza. O problema é que a “cabeça” dessa molécula se modifica rapidamente e, por isso, as vacinas precisam ser reformuladas continuamente.

Nos dois estudos publicados ontem, os cientistas tentaram outra estratégia: criar vacinas que atuem no “caule” da molécula HA, em vez de atuar na sua “cabeça”. Eles descobriram que, embora a “cabeça” da molécula se modifique muito, o “caule” permanece muito parecido, com poucas mutações, nas diversas cepas de vírus.

Segundo Wilson, uma vacina capaz de fazer o corpo reconhecer a parte da molécula HA que não sofre mutações seria fatal para o vírus, já que a proteína é fundamental no processo de infectar as células e está presente em todos os subtipos.

Os pesquisadores então isolaram essa parte da proteína HA e desenharam uma vacina que força o corpo a produzir anticorpos específicos contra ela. “Se o corpo humano puder produzir uma resposta imune contra o caule da molécula HA, fica difícil para o vírus escapar”, disse Wilson.

No experimento da Science, liderado por Antonietta Impagliazzo, do Instituto Crucell de Vacinas, em Leiden, na Holanda, a vacina experimental desenhada foi capaz de dar proteção total a camundongos contra os vírus H5N1, da gripe aviária, e H1N1, da gripe suína. A vacina foi menos eficaz em macacos, mas os animais tiveram sintomas menos severos de gripe depois da imunização.

O grupo que publicou na Nature, liderado por Barney Graham, do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, em Maryland, desenhou uma vacina experimental que também deu proteção completa a camundongos e proteção parcial a furões. Os animais haviam recebido injeções do vírus H5N1 em doses que foram fatais para outros animais não vacinados.

Segundo Wilson, no entanto, os experimentos foram apenas uma “prova de princípio”. “Esses testes mostraram que anticorpos induzidos contra um subtipo específico de influenza poderia proteger contra subtipos diferentes”, afirmou.

O próximo passo, segundo o cientista, é descobrir se a estratégia pode dar certo para o desenvolvimento de uma vacina que possa ser aplicada em humanos. “Ainda há muito trabalho a ser feito, mas o objetivo final, com certeza, seria criar uma vacina cujo efeito durasse a vida toda”, declarou Wilson.

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