O pai da menina de 15 anos que voltou a ser feita refém em Santo André, no ABC, nesta quinta-feira (16) afirmou que não autorizou a volta da menina ao local e que foi pego de surpresa. "Eu não moro com a mãe dela, então quem autorizou foi a mãe dela, eu não autorizei nada. A polícia que foi buscá-la na casa dela", explicou Luciano Vieira da Silva.
A menina é amiga da ex-namorada de Lindemberg Alves, de 22 anos, que invadiu o apartamento onde as duas estudavam com outros dois colegas às 13h30 de segunda-feira (13). Na noite de segunda, Alves liberou os dois rapazes. Na noite de terça-feira (14), a amiga da ex-namorada foi solta. A jovem prestou depoimento por mais de seis horas na quarta-feira (15). Na manhã de quinta-feira (16), ela voltou ao apartamento e foi feita refém novamente.
Segundo Silva, a polícia pediu na madrugada desta sexta-feira (17) para que ele se afastasse do local. "Eles pediram para eu me retirar de lá porque estava atrapalhando a investigação deles". O pai da menina não voltou a ser atendido pelo comando da operação, e foi embora durante a madrugada.
Movimentações
No início da manhã desta sexta-feira (17), quatro policiais da equipe que negocia a libertação das adolescentes entraram em um apartamento vizinho ao que é utilizado como cativeiro.
Para o consultor em segurança João Vicente da Silva Filho, a volta da menina ao apartamento foi uma decisão trágica do comando da operação. "Quando você sujeita uma pessoa que não é uma pessoa treinada a participar da negociação, você cria condições muitas vezes de ela vir a ser também um novo refém", afirmou. "Isso complica terrivelmente a situação da polícia, de ter o dobro preocupações com o dobro de vidas envolvidas. A gente mede o erro das decisões pelas conseqüências que acarreta. A conseqüência era previsível, e foi o que aconteceu."
O governador José Serra disse que acompanha atentamente o caso e que confia plenamente nas decisões da Policia Militar. Ele afirmou que a policia tem feito um bom trabalho e que tudo vai acabar bem.
Negociações
De acordo com a PM, o rapaz exigiu que a amiga voltasse ao apartamento para que, em seguida, se entregasse, mas não cumpriu o acordo. Para a polícia, ela não voltou a ser refém, pois a garota poderia sair do local quando quisesse, por mais que ainda permaneça lá quase dez horas depois.
O secretário-geral do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), Ariel de Castro Alves, disse que a polícia não poderia ter permitido a volta da menina. Segundo ele, a polícia não agiu corretamente ao permitir que a jovem entrasse no apartamento. "É ilegal submeter uma criança ou um adolescente a qualquer situação de risco", disse o secretário-geral, referindo-se ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O conselho pediu à ouvidoria da PM que investigue os procedimentos adotados nas negociações.
O retorno da adolescente também surpreendeu Fabiana Vieira de Souza, de 33 anos, tia da garota. "A gente não está entendendo por que ela voltou para lá. Para mim, foi uma loucura", disse a tia na tarde desta quinta. Segundo ela, a família ficou sabendo de tudo pela televisão. O retorno também surpreendeu especialistas no assunto.
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