Aos prantos, Cintia Francelino, mãe do garoto de dez anos morto pela Polícia Militar de São Paulo, esperava a liberação do corpo de seu filho no Instituto Médico Legal (IML). “Eu quero ver meu filho, eu quero ver meu filho”, dizia aos funcionários do IML. O garoto morreu com um tiro na cabeça.
Ela então se levantou e abordou a reportagem. “Não vai adiantar nada. O meu filho era uma criança. Ninguém vai trazer o meu filho de volta.” Então foi chamada por um funcionário do IML. Ela precisava encontrar um caixão para levar a criança. A família vive na favela do Piolho, no Campo Belo, zona sul da capital.
“Nós moramos na favela. Eles vão vir atrás de nós. Não vai ter justiça”, disse um tio do garoto, que não quis se identificar. A família deixou o IML na Vila Leopoldina para providenciar o caixão, velório e enterro do garoto. Além do menino que foi morto, outro menor, de 11 anos, também participou da ação e foi apreendido pelos policiais.
Menino e amigo já tinham passagem pela polícia de SP
A criança que morreu tinha três passagens por abrigos registrados no ano passado e neste ano. O ouvidor das polícias Júlio César Fernandes Neves disse nesta sexta-feira que vai pedir que o caso seja levado para a Corregedoria e acompanhando de perto.
“Me surpreende que um menino de 10 anos, que mal consegue alcançar o pé no pedal de um carro, tenha capacidade para fugir e sair atirando”, disse Neves ao sair do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública diz que a PM comunicou o Conselho Tutelar e a Vara de Infância e Juventude e que um inquérito de morte decorrente de oposição à intervenção policial pelo DHPP.
O comunicado diz ainda que as armas usadas pelo menor e pela PM foram apreendidas para a perícia. A Corregedoria abriu um inquérito administrativo e acompanha as investigações, “como é de praxe em todas as ocorrências envolvendo PMs”.
Suspeito de roubar carro em SP, menino de 10 anos é morto pela PM
Leia a matéria completaVítima tinha quatro irmãos
Segundo de cinco filhos de Cintia, o menino de dez anos morto era o “levado” da família. Uma prima da criança, Bianca de Jesus, conta que estão todos ainda tentando entender como uma arma chegou em suas mãos. Ela conta que a mãe do menino, Cintia, está muito abalada. “Ela tá mal, já tomou calmante. Tem mais quatro filhos para cuidar, um de 13 e outros bebês, mas estão todos com a sogra dela. O pai ainda nem sabe. É feirante e está viajando”, relata Bianca.
A prima do menor o descreve como um menino que não gostava de ficar em casa. Ele e o outro garoto de 11 anos envolvido no assalto eram como irmãos. A prima desconhece que a criança tenha se metido em “qualquer encrenca”. “Ele era levado, mas até onde sei nunca foi envolvido com nada. Vivia o dia inteiro na rua, com esse amigo. Viviam andando de ônibus para cima e para baixo”, diz a prima.
O caso
Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública), os meninos furtaram o carro – um Daihatsu preto – dentro de um condomínio na região do Morumbi. A polícia informou que, durante patrulhamento pela região, os policiais identificaram o veículo furtado na rua José Ramon Urtiza, por volta das 19h10.
De acordo com a PM, os policiais deram ordem de parada e os dois jovens aceleraram o carro e fugiram. Durante a perseguição policial, o condutor do carro perdeu o controle e bateu em um ônibus e em um caminhão. Quando os policiais se aproximaram do carro, segundo a PM, foram recebidos por tiros.
Na troca de tiros, o menino, que dirigia o carro, foi atingido na cabeça. A SSP informou que o menino de dez anos atirou três vezes com um revólver calibre 38 contra policiais militares. A polícia informou que uma equipe médica foi acionada, mas o menino não resistiu e morreu ainda no local.
O menino de 11 anos foi apreendido sem ferimentos, encaminhado para o 89º DP (Morumbi), e depois, para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil, onde o caso é investigado. A secretaria informou que ele prestou depoimento e, depois, foi entregue aos responsáveis.
Segundo a secretaria, no relato feito ao delegado, na presença da mãe, o menino confirmou que o colega atirou duas vezes na polícia, num primeiro momento, e, depois que bateu o carro, disparou de novo antes de ser atingido. A polícia comunicou o Conselho Tutelar e a Vara da Infância e da Juventude.
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