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Curitiba

“Eu quis impedir uma morte”, diz delegado envolvido em confronto

O delegado Gérson Melo Runpfe, de 48 anos, disse que se envolveu em um confronto para evitar que um conhecido fosse linchado. O caso ocorreu na tarde de sábado (6), no bairro Parolin, e terminou com a morte de um catador de materiais recicláveis. O delegado foi atingido de raspão e o filho dele, de 19 anos, levou três tiros na perna. "Eu quis impedir uma morte. Eu fui fazer o bem e me aconteceu uma coisas dessas", disse o delegado da Corregedoria da Polícia Civil, em entrevista à Gazeta do Povo.

O confronto ocorreu depois que o delegado levou, em uma viatura da Polícia Civil, um conhecido ao bairro para reaver uma motocicleta, que outra pessoa teria trocado por drogas. O homem teria descido do carro e, quando já dava ré no veículo, o delegado teria visto um grupo cercando o conhecido e o agredindo. "Era umas 20 pessoas. Eles davam socos e chutes nele. Quando eu vi que um dos agressores estava com uma arma, eu percebi que não podia deixá-lo ali porque eles iriam matá-lo", contou.

O delegado afirma que desceu da viatura e que se apresentou como policial. O grupo então teria ido para cima dele, já entrando em luta corporal. Quando algumas pessoas tentavam desarmá-lo, ocorreram alguns disparos. Gérson Melo, no entanto, não sabe apontar se, neste instante, alguém foi atingido. "Vieram como um enxame de abelha para cima de mim. Deram um tapa na minha carteira funcional, que caiu no chão. Na confusão, arrancaram minha arma", afirmou.

Gérson de Melo conseguiu voltar à viatura e pegar sua arma reserva. Neste instante, percebeu que seu filho estava ferido. Ainda durante o conflito, o delegado conseguiu arrancar com o veículo e se dirigir a um hospital. O grupo ainda disparou três vezes contra a viatura.

De acordo com o policial, ele levaria o veículo oficial para lavar e, por isso, seu filho estava junto. "Eu não estava lá em uma operação policial particular. Eu estava dando uma carona para este conhecido, que queria vender a moto para se internar em uma clínica [para dependentes químicos]. Eu não sabia que aquela rua era tão perto da favela e que ia acontecer tudo aquilo", afirmou.

Na tarde desta segunda-feira, o filho do delegado passou por cirurgias no hospital em que está internado. Apesar dos ferimentos, o jovem está fora de perigo. Gérson Melo, no entanto, ressalta que o confronto deixou marcas psicológicas em todos. "Eu estou muito abalado. Meu filho, que tinha o sonho de ser policial, já disse que quer seguir outra profissão. É difícil", desabafou o delegado.

Investigações

A Delegacia de Homicídios (DH) deu os primeiros atendimentos ao caso. O inquérito, no entanto, deve ser remetido à Corregedoria da Polícia Civil, que deve designar um delegado especial para conduzir as investigações.

Nesta segunda-feira, Gérson Melo prestou depoimento na DH. A viatura foi periciada pelo Instituto de Criminalística (IC), que constatou uma marca de disparo na traseira do veículo, o que comprovaria que o grupo continuou atirando quando o carro conduzido pelo delegado deixava o local. Havia muitas impressões digitais, como se o veiculo tivesse sido cercado por diversas pessoas.

O catador de recicláveis foi identificado como Luiz Adilson Neves, de 33 anos. Segundo uma nota oficial divulgada pela Secretaria de Segurança Pública (Sesp), ele já tinha passagem por porte ilegal e por disparo de arma de fogo. Neves estava em liberdade provisória desde 1º de dezembro de 2010. Gérson Melo está há quase 30 anos na Polícia Civil e nunca teve processo contra si.

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