O Ministério da Saúde gastou quase R$ 1 milhão para promover o 1º Encontro de Mobilização de Promoção da Saúde no Brasil (Em Prosa Brasil) que contou com uma mulher dançando uma coreografia de conotação sexual. Durante uma apresentação, enquanto um dos quatro componentes que estavam no palco cantava a música "Batcu" de Aretuza Lovi e Valeska Popozuda, uma mulher dançava rebolando, descendo até o chão, levantando toda a parte de trás do vestido.
A pasta pagou pelo menos R$ 973.173,14 para organizar todo o evento que ocorreu entre os dias 4 e 6 deste mês, em Brasília. Os gastos foram divulgados pelo Estadão, que teve acesso a documentos internos do ministério. Nesta quarta-feira (11), a pasta informou ao portal Metrópoles que o cachê do grupo responsável pela apresentação erótica custou R$ 2 mil. Já o valor de quase R$ 1 milhão foi pago à GUC Agência de Eventos, empresa com sede no Rio de Janeiro.
O preço total ainda incluiu o pagamento de hospedagem e alimentação para os participantes, aluguel de cadeiras, mesas de som, iluminação, além da contratação de brigadistas, garçons, auxiliares, recepcionistas e de companhias de dança. O evento foi realizado no Centro Internacional de Convenções de Brasília (CICB), um dos maiores da capital federal.
Após a repercussão, a pasta disse, em nota, que sete grupos artísticos foram convidados para se apresentarem durante os intervalos do evento e que uma das apresentações surpreendeu pela coreografia inapropriada. A dança erótica causou a demissão do diretor de Prevenção e Promoção da Saúde, Andrey Roosewelt Chagas Lemos. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou que Lemos assumiu a autoria dos fatos. Em respostas às críticas, a pasta também anunciou a criação de uma "curadoria para organização de eventos oficiais".
"Infelizmente, eu fui surpreendida pelo episódio de ontem e venho, por meio desse vídeo, me desculpar muito sinceramente pelo ocorrido e reiterar o compromisso do Ministério da Saúde de que seus eventos reflitam a conduta e a orientação da Pasta da Saúde e do Governo liderado pelo presidente Lula”, disse Trindade em um vídeo ao anunciar a demissão de Lemos.
O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, classificou o episódio como lamentável e disse que ninguém no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defende ou justifica o fato. “A ministra Nísia Trindade e sua equipe mais do que ninguém tem afirmado que se trata de episódio isolado, que está em desacordo com o trabalho e a orientação do nosso governo”, disse Pimenta no último dia 6.
O evento foi realizado pelo Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde da Secretaria de Atenção Primária à Saúde, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). O processo burocrático, da aprovação a realização, foi rápido: teve início em 14 de setembro e no dia 4 de outubro o evento já estava sendo feito.
Além de Lemos, todas as etapas do processo administrativo contaram com a aprovação de seu superior hierárquico, o secretário de Atenção Primária à Saúde, Nésio Fernandes de Medeiros Júnior. Já a ministra não é mencionada nos documentos.
Segundo o Estadão, o processo administrativo não deixa claro como exatamente as atividades do evento se relacionam com a atenção básica à saúde. O evento era tratado como uma “agenda estratégica, uma vez que reforça a importância da promoção da saúde na recomposição da agenda política e social de transformação da nossa realidade em cuidado e de sustentabilidade da sociedade brasileira”.
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