O possível cancelamento da Zombie Walk em Curitiba neste ano é só mais um exemplo de eventos tradicionais da cidade que podem deixar de acontecer. De um lado, organizadores dos eventos reclamam da falta de diálogo e de apoio da prefeitura. De outro, a gestão municipal alega falta de recursos para investir no apoio aos eventos.
Para a realização de eventos de grande porte em Curitiba é necessário uma autorização da Comissão Permanente de Análise de Eventos de Grande Porte (Cage). As exigências são rígidas para garantir a segurança e, nos casos de programas gratuitos, a prefeitura vinha auxiliando com apoio logístico, como fornecimento de banheiros químicos, limpeza pública, segurança, entre outros itens.
Em nota oficial divulgada na página da Zombie Walk, os organizadores afirmaram que neste ano não obtiveram a autorização necessária para a realização do evento devido a “exigências muito além de nossas capacidades”. Segundo os organizadores, a prefeitura de Curitiba teria exigido que eles arcassem com despesas de segurança privada, pagamento dos agentes de trânsito, limpeza e banheiros químicos.
Uma reunião foi realizada na manhã desta quarta-feira (22) entre a Fundação Cultural de Curitiba (FCC) e organizadores do evento para tentar encontrar uma solução para que a Zombie Walk aconteça no próximo domingo (26). Para que a caminhada ocorra, porém, vai ser necessário o apoio da iniciativa privada na questão das exigências logísticas.
A falta de apoio logístico também foi um empecilho para a realização do pré-carnaval de Curitiba neste ano. O bloco Garibaldis e Sacis, por exemplo, quase não saiu neste ano por causa das exigências da Cage e da falta de apoio da prefeitura. O grupo, porém, resolveu arriscar e colocar o bloco na rua mesmo sem autorização.
“As saídas do Largo da Ordem e da Saldanha Marinho foram indeferidas. Nós saímos mesmo com a proibição”, disse Anaterra Viana, representante do bloco. “Nos outros anos a gente tinha parceria com a Fundação Cultural de Curitiba para fazer os pré-carnavais”, disse Anaterra.
Neste ano, porém, a parceria não aconteceu. “A gente conversou e fomos orientados que esse ano a prefeitura não poderia colaborar de nenhuma maneira, nem com estrutura de banheiro público, nem segurança”, disse Anaterra. “A prefeitura alega que não tem dinheiro”, afirmou.
Procurada pela reportagem, a Fundação Cultural informou que tem uma dívida de mais de R$ 1 milhão deixada pela gestão anterior e que no primeiro mês deste ano, período em que os organizadores buscaram apoio para a realização dos eventos, a prefeitura não tinha recursos em caixa para auxiliar na logística.
Escolas de samba e Oficina de Música
A verba destinada às escolas de samba da cidade também diminuiu esse ano. A Fundação Cultural de Curitiba anunciou que vai repassar somente R$ 539 mil ao Carnaval da cidade contra os cerca de R$ 700 mil entregues para a festa do ano passado.
Não é só o carnaval em Curitiba que sofre com a falta de recursos da prefeitura. A tradicional Oficina de Música de Curitiba, realizada todos os anos em janeiro, não aconteceu neste ano porque o prefeito Rafael Greca (PMN) alegou falta de dinheiro para a realização do evento – informação que foi contestada pelo prefeito anterior Gustavo Fruet (PDT).
Falta de diálogo
Os organizadores dos eventos também reclamam da falta de diálogo com a prefeitura. “Acho que é falta de diálogo. Eles assumiram agora, deveria partir deles essa tentativa de chamada para o diálogo com eventos que acontecem aqui há muitos anos”, opina Anaterra. “Nós estávamos desde o ano passado tentando contato com a nova gestão e não conseguimos”, alegou a representante do Garibaldis e Sacis.
Para ela, a gestão atual também é mais conservadora. “Acho que eles colocam muito na esfera do evento da bagunça. A impressão que eu tenho é ‘vamos voltar a Curitiba da ordem, que tem horário para dormir, colocar todo mundo dentro da caixinha de novo’”, critica.
A Fundação Cultural informou que após o carnaval os grupos organizadores que tiveram dificuldades nesse ano serão chamados para uma conversa com a prefeitura. O objetivo, segundo a assessoria de imprensa, é montar uma estratégia para que os eventos ocorram com mais tranquilidade em 2018.