O possível cancelamento da Zombie Walk em Curitiba neste ano é só mais um exemplo de eventos tradicionais da cidade que podem deixar de acontecer. De um lado, organizadores dos eventos reclamam da falta de diálogo e de apoio da prefeitura. De outro, a gestão municipal alega falta de recursos para investir no apoio aos eventos.
Para a realização de eventos de grande porte em Curitiba é necessário uma autorização da Comissão Permanente de Análise de Eventos de Grande Porte (Cage). As exigências são rígidas para garantir a segurança e, nos casos de programas gratuitos, a prefeitura vinha auxiliando com apoio logístico, como fornecimento de banheiros químicos, limpeza pública, segurança, entre outros itens.
Regras rígidas
Sem o apoio logístico da prefeitura, fica difícil cumprir as exigências rígidas da Cage. O Carnaval Eletrônico, por exemplo, que estava previsto para acontecer no início do mês na capital não ocorreu por falta de documentação. A prefeitura informou que a Cage constatou a falta de documentos como liberação do Corpo de Bombeiros e a indicação de responsável técnico para a montagem da estrutura para que o evento fosse liberado.
A Cage foi criada em Curitiba em 2003, na gestão do então prefeito Cassio Taniguchi, por meio do projeto de lei 10.906/03, que dispõe sobre a promoção e realização de eventos de grande porte na capital. A comissão conta com representantes das secretarias municipais de Urbanismo, Finanças, Saúde, Meio Ambiente, Defesa Social, Urbanização, Fundação Cultural, Procuradoria-Geral e um representante da Câmara de Vereadores.
A comissão tem como função a conferência e análise de documentos e emissão de parecer final para deferir ou indeferir os pedidos para realização dos eventos. A decisão ocorre por meio de votação dos membros da comissão. O projeto de lei 10.906/03 estabelece uma série de exigências para a realização de eventos em locais fechados com mais de mil participantes e em locais abertos com público igual ou superior a 2 mil pessoas.
Em nota oficial divulgada na página da Zombie Walk, os organizadores afirmaram que neste ano não obtiveram a autorização necessária para a realização do evento devido a “exigências muito além de nossas capacidades”. Segundo os organizadores, a prefeitura de Curitiba teria exigido que eles arcassem com despesas de segurança privada, pagamento dos agentes de trânsito, limpeza e banheiros químicos.
Uma reunião foi realizada na manhã desta quarta-feira (22) entre a Fundação Cultural de Curitiba (FCC) e organizadores do evento para tentar encontrar uma solução para que a Zombie Walk aconteça no próximo domingo (26). Para que a caminhada ocorra, porém, vai ser necessário o apoio da iniciativa privada na questão das exigências logísticas.
A falta de apoio logístico também foi um empecilho para a realização do pré-carnaval de Curitiba neste ano. O bloco Garibaldis e Sacis, por exemplo, quase não saiu neste ano por causa das exigências da Cage e da falta de apoio da prefeitura. O grupo, porém, resolveu arriscar e colocar o bloco na rua mesmo sem autorização.
“As saídas do Largo da Ordem e da Saldanha Marinho foram indeferidas. Nós saímos mesmo com a proibição”, disse Anaterra Viana, representante do bloco. “Nos outros anos a gente tinha parceria com a Fundação Cultural de Curitiba para fazer os pré-carnavais”, disse Anaterra.
Neste ano, porém, a parceria não aconteceu. “A gente conversou e fomos orientados que esse ano a prefeitura não poderia colaborar de nenhuma maneira, nem com estrutura de banheiro público, nem segurança”, disse Anaterra. “A prefeitura alega que não tem dinheiro”, afirmou.
Procurada pela reportagem, a Fundação Cultural informou que tem uma dívida de mais de R$ 1 milhão deixada pela gestão anterior e que no primeiro mês deste ano, período em que os organizadores buscaram apoio para a realização dos eventos, a prefeitura não tinha recursos em caixa para auxiliar na logística.
Escolas de samba e Oficina de Música
A verba destinada às escolas de samba da cidade também diminuiu esse ano. A Fundação Cultural de Curitiba anunciou que vai repassar somente R$ 539 mil ao Carnaval da cidade contra os cerca de R$ 700 mil entregues para a festa do ano passado.
Não é só o carnaval em Curitiba que sofre com a falta de recursos da prefeitura. A tradicional Oficina de Música de Curitiba, realizada todos os anos em janeiro, não aconteceu neste ano porque o prefeito Rafael Greca (PMN) alegou falta de dinheiro para a realização do evento – informação que foi contestada pelo prefeito anterior Gustavo Fruet (PDT).
Falta de diálogo
Os organizadores dos eventos também reclamam da falta de diálogo com a prefeitura. “Acho que é falta de diálogo. Eles assumiram agora, deveria partir deles essa tentativa de chamada para o diálogo com eventos que acontecem aqui há muitos anos”, opina Anaterra. “Nós estávamos desde o ano passado tentando contato com a nova gestão e não conseguimos”, alegou a representante do Garibaldis e Sacis.
Para ela, a gestão atual também é mais conservadora. “Acho que eles colocam muito na esfera do evento da bagunça. A impressão que eu tenho é ‘vamos voltar a Curitiba da ordem, que tem horário para dormir, colocar todo mundo dentro da caixinha de novo’”, critica.
A Fundação Cultural informou que após o carnaval os grupos organizadores que tiveram dificuldades nesse ano serão chamados para uma conversa com a prefeitura. O objetivo, segundo a assessoria de imprensa, é montar uma estratégia para que os eventos ocorram com mais tranquilidade em 2018.
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