Prisão anunciada na "escolinha"
O governador Roberto Requião (PMDB) foi o primeiro a anunciar ontem, durante a reunião semanal do secretariado, a operação que prendeu o ex-diretor-geral do Detran-PR, César Franco, pela suposta operação ilegal de créditos tributários no órgão. Requião aproveitou o fato para atacar o ex-governador Jaime Lerner, que governava o estado à época do ocorrido.
"O Jaime pode me chamar de Pinochávez, mas ladrão eu não sou. Jaime, vá fazer gracinhas com o César Franco no 1.º Distrito Policial. Já dei ordem para deixarem o Jaime e o (Valdir) Rossoni (deputado estadual líder da oposição) visitarem o César Franco. Esse era o Detran do Jaime, que faz gracinhas com o meu nome", afirmou Requião, que continuou provocando os adversários políticos.
"Faço um convite ao Jaime e a toda bancada de deputados que o apoiou para visitarem o César Franco. Não o abandonem, não o deixem chorando", disse o governador, comparando a gestão do Detran sob sua administração com a passada. "O Detran do Marcelo Almeida e do (David) Pancotti repassou R$ 450 milhões para a recuperação de estradas."
O deputado estadual Valdir Rossoni (PSDB) classificou as afirmações de Requião como um ataque aos deputados que fazem oposição ao atual governo. "A situação está feia, o governo está cheio de problemas para ele tentar atacar e intimidar a oposição. Se há algo errado, a Justiça deve tomar as providências necessárias", disse.
Caio Castro Lima, colaborou JNB
Uma operação de créditos tributários feita pelo Departamento de Trânsito (Detran) do Paraná no governo Jaime Lerner levou 24 pessoas à prisão ontem. Ao todo, 26 prisões preventivas foram decretadas pela Justiça Estadual. Entre os presos estão César Franco, ex-diretor-geral do Detran, os seus principais assessores na época, advogados, empresários e consultores do Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e do Distrito Federal.
Um deles é o argentino César de La Cruz Arrieta, que foi preso na operação Tango por fraudes contra a Receita Federal há dois anos. O grupo é acusado de negociar cerca de R$ 9,5 milhões de créditos tributários falsos da empresa Vale Couros Trading S/A, a mesma que negociou R$ 436 milhões com o Banco Santos, do banqueiro Edmar Cid Ferreira.
O Detran comprou os créditos com desconto de 12%, o que parecia um bom negócio. Eles seriam usados para quitar uma dívida acumulada de PIS/Pasep junto ao governo federal entre 1993 e 2002. O negócio ocorreu em 2002, em duas parcelas, com o pagamento feito diretamente na conta da Vale Couros. Mas o Detran não conseguiu pagar a dívida com o governo federal, porque os créditos eram "podres", ou seja, não existiam. A partir daí, o Ministério Público Estadual e a polícia passaram a apurar porque o Detran fez a operação.
Segundo investigações do Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce), o dinheiro da compra dos créditos foi entregue ao doleiro Alberto Youssef, que o teria pulverizado entre a antiga cúpula do Detran, o argentino Arrieta, advogados e outros envolvidos no negócio. Essas informações constam no acordo de delação premiada feito por Youssef com os ministérios públicos estadual e federal, no qual ele relatou negócios ilegais feitos com políticos envolvendo pelo menos o Banestado, a Copel e o Detran, com dinheiro vindo da corrupção. O advogado Antônio Augusto Figueiredo Basto, defensor de Youssef, confirmou o acordo. Ele afirmou que o cliente tem documentos que incriminam todo o grupo e outros políticos do estado.
Cofres públicos
O secretário de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, estima que o golpe contra o estado deu um prejuízo de R$ 19 milhões aos cofres públicos, que corrigidos somariam hoje R$ 25 milhões. Delazari lembrou ainda que o caso Detran tem ramificação com o negócio celebrado entre a Copel e a Olvepar e outros semelhantes feitos pela estatal, nos quais aparecem o empresário Maurício Silva (ex-sócio de César Franco). Silva foi novamente preso ontem. De acordo com Delazari, o seu nome não aparece por acaso em todas as situações. "O Maurício era o caixa 2 de todo o dinheiro roubado do governo", afirmou o secretário.
A operação foi batizada de trânsito livre e envolveu 140 policiais do Nurce, do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) e de outros estados. Os presos foram transferidos para Curitiba. Nos próximos dias, eles devem ser denunciados pelo Ministério Público pelos crimes de fraude a licitação, falsidade ideológica, peculato, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
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