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Fronteira

Ex-laranjas têm dificuldade em obter emprego legal em Foz

Sem emprego ou ocupação legal para sustentar a família, ex-laranjas (trabalhadores informais contratados para carregar mercadorias, muitas vezes ilegalmente, na Ponte da Amizade, ligação entre Brasil e Paraguai) passaram a engrossar o bolsão de miséria em Foz do Iguaçu após o início das operações da nova aduana, em outubro. Agora, todo mundo que cruza a fronteira com mercadorias é fiscalizado. Hoje, eles estão incluídos na estatística das 40 mil pessoas sem renda na cidade e aumentam as filas na Agência do Trabalhador e no Programa do Voluntariado Paranaense (Provopar) à procura de emprego e de assistência do Bolsa Família.

Segundo o gerente da Agência do Trabalhador de Foz do Iguaçu, Antão Veríssimo Santor, o movimento quase dobrou no início deste ano, passando de 250 atendimentos ao dia para 400. Ele estima que desse total pelo menos de 15% a 20% das pessoas trabalhavam como laranjas na Ponte da Amizade e não conseguem vaga no mercado formal porque não têm experiência comprovada. "O pessoal da ponte tem facilidade para fechar negócio, se comunicar e tem percepção, mas não pode comprovar experiência", diz. Uma das formas de se comprovar experiência profissional, além do registro em carteira, é ter carta de apresentação de empresas nas quais se trabalhou, documento inexistente para os laranjas que eram contratados por sacoleiros e ganhavam por dia. Na opinião de Santor, o perfil dos ex-trabalhadores da ponte permitiria emprego formal de vendedores ou atividades externas.

A situação do emprego na fronteira pode ser analisada por meio de estatísticas da Agência do Trabalhador. Foz do Iguaçu, com 309 mil habitantes, fechou 2006 com saldo de 1.023 novos empregos. Bem menos que Cascavel, por exemplo, onde vivem cerca de 280 mil habitantes e onde o saldo foi de 2.954. Em Maringá, cuja população é de 324 mil pessoas, houve ocupação de 5.726 vagas.

No Provopar, a procura por assistência social também aumentou. Segundo a coordenadora do Cadastro do Bolsa Família, Loici Maria Ramos da Silva, após a inauguração da aduana o Provopar passou a atender 300 pessoas ao dia. Antes a média era de 200. "A maioria vem procurar o Bolsa Família e diz que trabalhava na ponte", diz. Segundo Loici, sabendo do número de famílias pobres na cidade e ex-laranjas, a prefeitura já solicitou ao governo federal aumento na cota do Bolsa Família, mas até agora não obteve resposta. Atualmente, há cerca de 30 mil famílias inscritas no cadastro único do Bolsa Família. Desse total, 10.429 recebem o benefício.

Nair Dias Viana, 58 anos, é um exemplo da dificuldade de ex-laranjas em arrumar emprego formal. Sem ocupação desde a abertura da nova aduana, ela procurou a Agência do Trabalhador para trabalhar como camareira ou ajudante de limpeza em hotéis, mas não conseguiu. Nair foi funcionária por quatro anos de um hotel de Foz, mas ele fechou. Depois disso foi ganhar a vida transportando mercadorias na Ponte da Amizade, onde passou os últimos três anos. Ganhava R$ 30 ao dia. "Era o único trabalho que tinha", diz. A mesma situação enfrenta José Augusto Oliveira da Cunha, 41 anos. Pai de dois filhos, ele trabalhou em lojas do Paraguai e transportou mercadorias na ponte por cinco anos. Hoje procura emprego de vigia. "Tudo que é ilegal é errado. Mas o governo não esperava que isso iria afetar tanto a cidade", diz.

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