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| Foto: Rodrigo Gavini/A Tribuna

Desde a madrugada do último sábado (4), quando familiares de policiais militares passaram a impedir a saída de viaturas e policiais dos quartéis, a população do Espírito Santo passou a viver cenas de terror e entender o sentimento de pânico. A capixaba Carla Coutinho, de 37 anos, é chef de cozinha e saiu para trabalhar normalmente no sábado a noite, apesar da tensão. O restaurante onde trabalha contratou seguranças diante da falta de patrulhamento e, no fim do expediente, ela voltou para casa acompanhada dos patrões. Depois disso, não deixou mais o seu apartamento.

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“No começo, ninguém achou que era tão grave. Mas as cenas de arrastões, grupos de pessoas com armamento pesado assaltando lojas, pessoas, trocas de tiro com quem está passando na rua mudou tudo. Tudo isso é muito assustador”, conta. “Ninguém nunca acha que vai passar por isso, parece cena de filme. Nós não sabíamos o que era guerra, mas isso aqui é uma guerra civil”, descreve.

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Os serviços em Vitória estão praticamente todos parados - a maioria dos ônibus não funciona, nem bancos nem lojas estão abrindo. Não há dinheiro nos caixas eletrônicos. Nos poucos supermercados que abriram, um pouco mais tarde do que o normal, a maioria das pessoas faz estoque de comida para não precisar sair de casa. “Alguns supermercados nem abriram as portas e os que abriram estavam cheios de gente comprando grandes quantidades de comida. Ninguém sabe quando isso vai acabar”, diz a chef de cozinha.

Ou ruas vazias, ou pânico

Vitória, descreve Carla, parece uma cidade fantasma. “Ou as ruas estão vazias, ou em pânico. Você desconfia de todo mundo, olha para os lados o tempo inteiro. Os bandidos não se intimidaram com a presença do Exército. Eles têm armas tão pesadas quanto o Exército”, comenta. De acordo com a moradora, a presença de tropas federais, que chegaram à capital na noite desta segunda-feira (6), não mudou a sensação de insegurança. “Você não vê o Exército nas ruas. Não há nem mesmo a sensação de segurança, o que é muito diferente do que estar de fato seguro”, argumenta.

Tânia Rêgo/Agência Brasil

A rotina de todos os moradores do prédio onde mora também mudou desde que os protestos começaram. A síndica do prédio, conta Carla, tem ficado sem dormir para acompanhar os porteiros do turno da madrugada. Seguranças privados também foram contratados para ajudar na tarefa. “Agora os assaltantes estão começando a entrar nas casas, nos prédios. Parece que nem em casa estamos mais seguros”.

Algumas pessoas têm enfrentado o medo de sair de casa com outro medo - o de perder o emprego. “Eu entendo que as pessoas têm medo, mas é uma questão de segurança. Os bandidos estão sem medo. Pode ser o emprego ou a vida”, lamenta. Desde sexta-feira (3), quando os protestos começaram, 75 pessoas já foram assassinadas em Vitória de acordo com o Sindicato dos Policiais Civis.

Tânia Rêgo/Agência Brasil

Medo do que vem depois

A falta de policiais nas ruas, para Carla, gerou um outro problema. “Me parece que agora eles [os assaltantes] perceberam a força que eles têm. Eles não estão intimidados, perceberam que unidos têm muita força. Deixaram uma cidade inteira em pânico, fragilizada. A gente se pergunta: será que as coisas vão voltar a ser como eram antes? O que vai ser de Vitória quando isso tudo acabar?”, questiona.

A capixaba, que já morou em outras cidades do país como São Paulo e Curitiba, diz que não quer mais viver na capital do Espírito Santo. Para Carla, a situação em todo o estado deve piorar muito antes de melhorar. “As coisas já estavam difíceis aqui, e não é de hoje. Agora piorou muito. A vontade de sair daqui só aumenta, você só quer correr”. Carla é mãe de um menino de 5 anos e quer que o filho viva em um local seguro. “Acredito que as coisas não vão ser como eram antes em Vitória. Não consigo mais enxergar como essa cidade vai voltar a ser uma cidade tranquila”, lamenta.

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