O ex-investigador da Polícia Civil Ricardo Abilhôa, filho do procurador de Justiça e ex-coordenador da Promotoria de Investigações Criminais (PIC), Dartagnan Cadilhe Abilhôa, foi condenado a pouco mais de oito anos de prisão em regime fechado pelos crimes de corrupção passiva, usurpação de função e lavagem de dinheiro. A decisão, divulgada ontem, é do juiz federal Sérgio Fernando Moro, da 2.ª Vara Federal Criminal de Curitiba. Ainda cabe recurso no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, em Porto Alegre.
Os crimes foram cometidos em 2004, quando em companhia do também ex-policial civil Carlos Eduardo Carneiro Garcia (Carlinhos), Ricardo prendeu e extorquiu US$ 350 mil do traficante internacional Lucio Rueda Bustos, conhecido como "Mexicano" ex-integrante do Cartel de Juarez, organização criminosa do México.
Ao ser preso, no dia 18 de junho de 2004 no bairro Água Verde, em Curitiba, o traficante foi levado para as dependências da PIC, na época coordenada por Dartagnan pai de Ricardo. Lá, o traficante apresentou identidade falsa. Entretanto, Ricardo e Carlinhos já sabiam do passado criminoso de Bustos. Para não entregar o traficante à Polícia Federal (PF), Ricardo e Carlinhos pediram US$ 1milhão. Em depoimento, entretanto, Ricardo diz que o valor negociado foi de US$ 350 mil Carlinhos, por sua vez, nega a extorsão.
O dinheiro, pago em três parcelas pelo traficante por meio de uma advogada, foi dividido igualmente entre Carlinhos e Ricardo. Com a sua parte, Ricardo comprou, conforme a sentença, um apartamento em Balneário Camboriú, em Santa Catarina, e um carro modelo Pajero. Os dois bens foram confiscados pela Justiça. O dinheiro conseguido por Ricardo, será devolvido US$ 175 mil (cerca de R$ 525 mil, já que na época o dólar valia cerca de R$ 3). Apesar de já ter sido demitido do quadro da Polícia Civil, o juiz federal determinou a perda do cargo.
O suposto envolvimento do procurador Dartagnan Cadilhe Abilhôa com o caso de extorsão não foi julgado. O Ministério Público Federal acredita que Ricardo ao apresentar sua defesa tentou proteger o pai, declarando que no momento da prisão de Mexicano não sabia o passado criminoso do traficante.
O procurador, entretanto, é citado na sentença. No item 109, o juiz federal diz que "há indícios de sonegação fiscal pelo Procurador de Justiça Dartagan Cadilhe Abilhôa". Por conta disso, Moro determina que o corregedor-geral do Ministério Público Estadual, Ernani de Souza Cubas Junior, receba cópia da sentença para que o órgão tome as devidas providências. A assessoria do MP informou que a corregedoria aguarda a remessa da decisão e das provas que levaram o juiz a essa conclusão para a abertura de procedimento investigatório.