Numa sentença de duas mil páginas, o ex-presidente da escola de samba Unidos de Vila Isabel, Wilson Vieira Alves, o Moisés, foi condenado a 23 anos de prisão pelos crimes de contrabando, formação de quadrilha e corrupção ativa. A decisão foi do juiz da 4.ª Vara Federal de Niterói, André Lenart, e publicada em 16 de novembro. É a maior sentença já imposta até hoje a um dos integrantes da cúpula do jogo do bicho.
Moisés foi preso em abril do ano passado, depois de ter sido investigado por mais de dois anos pela máfia dos caça-níqueis. Na denúncia, ele é apontado como "o bicheiro responsável pelos pontos (das máquinas) dos municípios de Niterói e São Gonçalo"; "quem controla nesta região esta atividade criminosa".
Os caça-níqueis também são controlados por bicheiros, que autorizam a exploração desse tipo de máquina, a partir de um pagamento mensal. O comprovante é um selo afixado às máquinas, uma espécie de alvará de funcionamento do jogo do bicho. Moisés funcionava como representante da "banca", espécie de associação que reúne os mais importantes da cidade.
Cabia a ele a venda, distribuição dos selos e cobrança. Se um comerciante tivesse máquina sem selo no seu estabelecimento, o equipamento era apreendido pelos seguranças (policiais militares e civis) de Moisés até que fosse efetuado o pagamento do resgate. "Um esquema criminoso, baseado na arregimentação de membros, aliciamento de pessoas e policiais, intimidação, comprometimento recíproco e subordinação, típico de um sistema 'mafioso' e que tem a adesão de membros das instituições policiais estatais", diz trecho da sentença.
Também foram condenados o policial civil Sérgio Lúcio Teixeira Tibau, Maycon dos Santos Piaz, Jairo Sodré Bessil, e Gislaine Lopes Macedo. Oito réus ainda não foram julgados.
Moisés é militar reformado e chegou à Vila Isabel em 2004, por indicação do ex-presidente da Liga das Escolas de Samba (Liesa) Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães. Durante o processo, Moisés foi transferido para o presídio de segurança máxima Bangu 2, depois de denúncias de que teria mordomias - inclusive a visita de prostitutas - no presídio Ary Franco.