O advogado-geral da União, Jorge Messias, o secretário de Comunicação Social, Paulo Pimenta, e o secretário de Políticas Digitais da Presidência João Brant defenderam Moraes e a regulamentação das redes sociais.| Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom | Antônio Cruz | Tânia Rêgo | Agência Brasil
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Com o discurso de “defesa da democracia”, os apoiadores da censura nas redes sociais, em casos em que o governo Lula e Judiciário considerem que houve “desinformação”, aproveitaram as manifestações de Elon Musk contra decisões do ministro Alexandre de Moraes para trazer o tema de volta ao debate. Autoridades do Executivo apoiaram a inclusão do empresário no inquérito das milícias digitais e reagiram às falas de Musk com a retomada da defesa da “regulamentação das redes sociais”, em uma referência tácita ao PL das Fake News, chamado de PL da Censura pela oposição.

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“É urgente regulamentar as redes sociais. Não podemos conviver em uma sociedade em que bilionários com domicílio no exterior tenham controle de redes sociais e se coloquem em condições de violar o Estado de Direito, descumprindo ordens judiciais e ameaçando nossas autoridades. A Paz Social é inegociável”, publicou Messias, advogado-geral da União, na plataforma X.

“Não vamos permitir que ninguém, independente do dinheiro e do poder que tenha afronte nossa Pátria. Não vamos transigir diante de ameaças e não vamos tolerar impunimente nenhum ato que atende contra a democracia”, declarou Paulo Pimenta, ministro da Secretaria de Comunicação Social. Pimenta ainda acrescenta que “o Brasil não é a selva da impunidade e nossa soberania não será tutelada pelo poder das plataformas de internet e do modelo de negócio das big techs”.

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“Não é um ministro individualmente que está sendo atacado. É um ataque inadmissível. É a Suprema Corte brasileira e o conjunto daqueles que defendem a soberania do nosso país”, afirmou Alexandre Padilha, ministro da Secretaria de Relações Institucionais.

João Brant, que ocupa o cargo de secretário de Políticas Digitais da Presidência, também adotou o discurso que as manifestações de Musk atacam ações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo que apenas desejam proteger a democracia brasileira. Brant afirmou que Musk quis “fazer agitação política atacando a justiça e demonstrando desprezo pela soberania brasileira”.

O PL das Fake News (Projeto de Lei 2.630/20) é chamado de PL da Censura pela direita pelo seu potencial de facilitar a supressão de conteúdos das redes sociais por critérios amplos e subjetivos como “desinformação”. A oposição conseguiu, em maio de 2023, o adiamento da votação do texto inicial do PL, no plenário na Câmara dos Deputados, mas a proposta deve voltar modificada pelo seu relator nas próximas semanas, o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP).

Segundo interlocutores, entre as medidas previstas no novo texto do PL está a formação de um cenário que obrigue as plataformas a serem proativas em retirar e suspender comentários e vídeos, mesmo sem mediação judicial, com punições pesadas em casos que mantenham conteúdos posteriormente considerados pelo Judiciário como “desinformação”. Na prática, o receio é que as big techs, por medo de pagar multas milionárias, censurem conservadores e opiniões interpretadas pelo governo e por julgados no Judiciário de forma subjetiva como “desinformação” ou “discurso de ódio”.

Orlando Silva se manifestou depois das mensagens de Musk, relacionando-as com o PL das Fake News, informando que vai pedir ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que paute o projeto. Silva alegou que “descumprir ordem judicial, como ameaça Musk, é ferir a soberania do Brasil. Isso não será tolerado! A regulação torna-se imperativa ao Parlamento. PL 2630 SIM!”.

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Fernando Schüler, cientista político e professor do Insper, explica que a supressão de conteúdos indistintamente poderá penalizar opiniões legítimas. Para ele, há uma confusão entre o que é o combate ao crime no espaço digital e outros discursos opinativos, que deveriam ser respeitados em um Estado Democrático de Direito. “Essa distinção é a base da liberdade de expressão. A sociedade brasileira não pode confundir essas coisas”, reitera.

“Misturar essas coisas é um problema brasileiro que precisa ser resolvido. Há um amplo apoio da sociedade brasileira, que a mim parece correto, que é o combate ao crime no espaço digital, mas também há um profundo mal-estar quando se cruza uma fronteira e, apesar de se fazer em nome do combate ao crime na internet, é um exercício da censura política”, analisa Schüler.

Judiciário tem histórico de decisões que geram censura  

Se estimular que as redes sociais se antecipem a decisões judiciais para a suspensão de conteúdos, o PL das Fake News estará em sintonia com atuações do Supremo Tribunal Federal (STF) e o TSE nas últimas eleições e desde a abertura do inquérito das fake news, há cinco anos.

No início do ano, o TSE inaugurou um departamento de “combate a fake news e discurso de ódio” para atuar especialmente durante as eleições municipais de 2024 no último mês de março. O Centro Integrado de Enfrentamento à Desinformação e Defesa da Democracia vai contar com a representantes de órgãos do ministério da Justiça, Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Durante a cerimônia de inauguração, Carlos Baigorri, presidente da Anatel, anunciou que irá usar o poder de polícia do TSE para retirar conteúdos que disseminem informações falsas.

O poder de polícia citado por Baigorri foi criado pelo próprio TSE, entre o primeiro e o segundo turno das eleições de 2022, por meio de uma resolução que deu à Corte eleitoral poder de polícia para remover conteúdos “sabidamente injurídicos” ou “gravemente descontextualizado” na internet, medida ainda em vigor e questionada por juristas. Para a remoção, não é necessário o pedido de alguém que se considere atingido pela publicação ou do Ministério Público, ao contrário do que prevê a legislação, mas apenas um pedido de ofício do Judiciário. Mais de um ano após a decisão, o TSE se recusa a divulgar as informações de posts afetados pela resolução.

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Ainda com o argumento de “defesa da democracia”, em fevereiro, o TSE aprovou uma resolução que determina que as plataformas poderão ser punidas se seus usuários publicarem materiais enganosos criados por inteligência artificial. Durante a sessão, Moraes, atual presidente do TSE, declarou que “talvez seja a mais importante resolução para garantir a total liberdade do eleitor – liberdade de escolha, de votação”. Por outro lado, o Instituto Sivis, que defende os valores democráticos, publicou uma nota na qual considera que a decisão do TSE pode favorecer a censura prévia no Brasil.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]