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Sistema penitenciário

Exigências “padrão Fifa” atrasam construção de novos presídios

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Novo centro é inspirado em casa popular: Construído nos mesmos moldes das casas populares da Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), o Centro de Integração Social foi escolhido pelo Ministério da Justiça como modelo para a ampliação de vagas no regime semiaberto em outros estados brasileiros. As unidades irão contar com salas de aula, canteiros de trabalho e setores de apoio ao preso, com lavanderia, ambulatório e refeitório. No Paraná, serão construídos oito desses espaços – com 1.728 vagas no total |

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Novo centro é inspirado em casa popular: Construído nos mesmos moldes das casas populares da Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), o Centro de Integração Social foi escolhido pelo Ministério da Justiça como modelo para a ampliação de vagas no regime semiaberto em outros estados brasileiros. As unidades irão contar com salas de aula, canteiros de trabalho e setores de apoio ao preso, com lavanderia, ambulatório e refeitório. No Paraná, serão construídos oito desses espaços – com 1.728 vagas no total

O Programa Nacional de Apoio aos Presídios, ação do governo federal que investirá R$ 1,1 bilhão na construção de presídios, ainda não saiu do papel. Desde novembro de 2011, quando foi lançado para reduzir a superlotação carcerária, nenhuma nova cela foi construída porque os projetos enviados pelos governos estaduais não atendiam ao padrão arquitetônico exigido pelo Ministério da Justiça. O Paraná, por exemplo, tem disponível R$ 130 milhões para criar mais de 7 mil vagas, mas ainda não conseguiu os recursos porque teve de refazer diversos projetos.

A liberação dos recursos federais é condicionada à entrega de projetos dentro dos padrões da Resolução 9, documento publicado naquele mesmo mês pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP). Entre outras normas, o texto prevê que penitenciárias tenham estacionamento padronizado, salão de cabeleireiro e barbearia, além de infraestrutura médica – laboratórios de diagnóstico e salas para raio-x.

As exigências encontraram resistência de parte dos governos estaduais. Segundo secretários ouvidos pela reportagem, caso as obras sigam ao pé da letra as recomendações da resolução, o custo por vaga em regime fechado praticamente dobraria – passando de algo em torno de R$ 22 mil para cerca de R$ 40 mil por ano.

"Perdemos um tempo precioso por causa dessa discussão. Não dá para fazermos um sistema penitenciário padrão Suécia com orçamento do Brasil", diz o coronel André Luiz de Almeida e Cunha, superintendente do Sistema Penitenciário do Pará.

De acordo com o Ministério da Justiça, desde a publicação da resolução, 37 contratos de 13 estados diferentes foram cancelados. Entre eles, Minas Gerais, estado que conta com uma superlotação de 16 mil presos e foi apontado pelo ministro da Justiça José Eduardo Cardozo como um dos prioritários para receber a verba.

Segundo Maria Tereza Uille Gomes, secretária de Justiça e Cidadania e Direitos Humanos do Paraná (Seju), o estado não teve contratos cancelados, mas teve problemas para formatá-los. "Fizemos projetos com base na resolução, e a nossa contrapartida saltaria de R$ 37 milhões para R$ 90 milhões. Para resolver o problema, tivemos de refazer todos eles, simplificando a forma construtiva. Mas ainda temos algumas semanas para entregá-los".

Dados do InfoPen mostram que há um déficit de 240 mil vagas no sistema penitenciário brasileiro. No Paraná, a superlotação atual de 6.429 presos, quase todos eles detidos em carceragens policiais, poderia ser zerada caso os projetos pretendidos pela Seju saíssem do papel ainda neste ano. No total, a secretaria pretende criar, até abril de 2015, 7.102 novas vagas – sendo 5,3 mil para o regime fechado e 1,7 mil para o semiaberto.

Consej questiona participação de arquiteta

O Conselho Nacional dos Secretários da Justiça, Cidadania, Direitos Huma­­nos e Administração Peni­­tenciária (Consej), presidido pela paranaense Maria Tereza Ulile Gomes, encaminhou no último mês de março um ofício ao Ministério da Justiça no qual, além de apontar contradições na resolução, questiona o fato de uma arquiteta alagoana, com supostos interesses comerciais nos projetos, ter participado da elaboração do documento.

A arquiteta em questão é Suzann Cordeiro, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e membro suplente do CNPCP. Segundo a Superintendência de Administração Peniten­­ciária de Alagoas, a arquiteta participou de uma licitação para elaborar os projetos de novos presídios no estado, mas o vencedor foi outro consórcio.

Outro lado

Por e-mail, Suzann disse que não faz parte de nenhum consórcio e que a participação dela na licitação foi autorizada pela UFAL. Afirma ainda que o CNPCP é composto por membros de notório conhecimento sobre o tema penitenciário e que o próprio Consej participou da elaboração da resolução.

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