Uma das dificuldades para a expansão dos trens turísticos é justamente que não há mais trilhos para serem utilizados pelo menos não obsoletos ou destinados ao transporte de passageiros. A malha ferroviária nacional é de 29,8 mil quilômetros, mas 95% está na mão de concessionárias de carga e o restante é da malha metroviária das grandes cidades. A solução então é negociar com os atuais responsáveis pelas vias. E essa situação, em muitos casos, leva ao encarecimento das passagens.
Segundo dados da Associação Brasileira de Operadores de Trens de Turismo e Culturais (Abottc), 30,2% dos valores pagos por passageiro são repassados para as concessionárias. Ou seja, além dos valores das passagens serem mais caros, a simples viagem nos trens se torna inviável.
"O negócio não consegue sobreviver somente com o preço da passagem. Por isso tentamos agregar outros produtos, fazendo pacotes que às vezes desvirtuam o passeio tradicional", diz o vice-presidente da Abottc, Adonai Arruda Filho, também diretor da empresa Serra Verde Express.
Mesmo com os valores das passagens maiores, o volume de passageiros de trens turísticos cresceu 9% no ano passado. Somente o trem de luxo que vai de Curitiba a Morretes, e cuja passagem custa R$ 270, transportou no período 150 mil pessoas. Inaugurado no fim do ano passado, o Trem do Pantanal recebeu outros 5 mil turistas, a maioria estrangeira.
Os trens turísticos que fazem passeios para preservar a memória das ferrovias não precisam repassar tanto para as concessionárias, mas por outro lado sofrem para conseguir horários pouco adequados nas vias para realizarem os passeios. Por isso muitas associações realizam os passeios em curtos trajetos, normalmente rejeitados pelo mercado de carga.
A explicação é que, por volta dos anos 1950, todas as locomotivas eram a vapor e perdiam o ritmo nas subidas. Por isso os trajetos eram com muitas curvas e mais longos, para contornar de forma mais suave as montanhas. "Com a chegada das locomotivas a diesel, que subiam facilmente os morros, foram construídas as linhas retificadas, ao lado das antigas, que eram menores, pois podiam subir os morros. E essas atraíram as concessionárias", diz o chefe de trens da regional paulista da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, Anderson Conte.