MST e outros grupos de extrema-esquerda têm reforçado seu foco em pautas identitárias.| Foto: MST/Wellington Lenon
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Velhos grupos de extrema-esquerda do país, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a CUT (Central Única dos Trabalhadores), estão incorporando pautas de movimentos identitários para modernizar seu discurso e atrair a juventude.

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Temas como feminismo, racismo e diversidade, que até o começo da década de 2010 raramente eram focos desses grupos, estão ganhando cada vez mais força tanto em seus posicionamentos oficiais como em suas estruturas.

A CUT criou no fim de outubro uma Secretaria Nacional LGBTQIA+. "A partir de agora, a representatividade da comunidade LGBTQIA+ no mundo do trabalho se torna política definitiva da Central", diz o texto de divulgação da novidade no site do grupo. A secretaria será comandada por Walmir Siqueira, que já era coordenador do Coletivo LGBTQIA+ da CUT.

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A organização também tem levantado a bandeira da diversidade no ambiente de trabalho e do antirracismo em seus materiais de comunicação. Na semana passada, o site da CUT tinha como destaque principal as "Pílulas antirracismo", uma campanha em 30 vídeos sobre como evitar o racismo no ambiente de trabalho.

Também em outubro, o MST promoveu em Brasília o "Acampamento da Juventude em Luta, por Terra e Soberania Popular", onde estiveram em foco temas como feminismo e racismo. "Não toleraremos mais qualquer tipo de violência patriarcal, LGBTI+fóbica, racista!", escreveu uma militante jovem sobre o evento no site do MST.

No mês anterior, o MST organizou o seu 3º Seminário sobre Diversidade Sexual e de Gênero na Via Campesina Brasil. O evento teve a presença de 80 participantes que se enquadravam na comunidade LGBTQIA+. Em junho, o movimento começou a participar da “Campanha Permanente Contra a LGBTI+fobia no Campo” e organizou, em São Paulo, uma festa do Orgulho LGBT que recebeu o nome de “Close & Luta”.

A união entre a chamada "esquerda raiz", que adota uma perspectiva mais clássica do marxismo e da luta de classes, e a esquerda "woke", formada por movimentos identitários, tornou-se mais comum a partir da eleição de Jair Bolsonaro como presidente e da necessidade que esquerdistas identificaram de unir forças para se opor à direita em expansão no Brasil.

Para renovar seus quadros, velhos líderes de movimentos sociais esquerdistas têm precisado passar por cima de algumas dificuldades de conciliação: eles tendem a repudiar, por exemplo, a aliança da nova esquerda com o liberalismo capitalista e o foco excessivo nas pautas de costumes, mas têm engolido as novidades.

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Em entrevista de maio à coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, o líder do MST João Pedro Stédile afirmou: "Eu era mais machista, mais ignorante. Eu mudei junto com o movimento".

Em caderno de respostas, MST faz lobby por pautas pró-LGBT no governo

Além de publicar conteúdos e organizar eventos em que demonstra sua abertura às pautas identitárias, o MST tem feito esforços para que o governo crie programas especialmente voltados à comunidade LGBT do setor rural.

Os pedidos estão em um caderno de respostas publicado em outubro. O documento, que está no site do governo, é uma compilação de demandas feitas pelo MST e respostas de órgãos do governo federal a essas demandas.

Um dos pedidos do MST é maior acesso ao programa CNH social (política pública de incentivo à retirada de habilitação para dirigir) para "mulheres, juventudes e LGBTI+ do campo". A resposta do governo, por meio da Secretaria Nacional LGBTQIA+ do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, indica que a demanda, embora não estivesse inicialmente prevista, será considerada para o planejamento de 2024.

Em relação à educação, o MST pede a inclusão do debate de gênero, educação sexual e diversidade em todos os níveis de ensino. A Secretaria Nacional LGBTQIA+ respondeu que concorda com a importância do tópico como um direito humano fundamental, mas atribui ao Ministério da Educação (MEC) a solução do problema. Não há resposta do MEC a essa demanda.

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No setor da saúde, o MST propõe a "formação de agentes populares de saúde com foco na saúde LGBTI+ do campo, águas e florestas, para atuarem como educadores/as populares sobre o direito à saúde, incluindo direitos sexuais e reprodutivos, a adoção de práticas seguras e a promoção da saúde".

O Ministério da Saúde responde que, por meio da Fiocruz, está em andamento o projeto "Saúde e prevenção das violências contra a população LGBTI+ do campo", que visa "aprofundar a formação em educação popular em saúde de integrantes do Coletivo LGBT Sem Terra sobre o direito à saúde".

Em relação ao fomento de atividades produtivas, o MST propõe políticas de crédito específicas para a comunidade LGBTI+ no campo. A Caixa Econômica Federal (CEF) indica, em resposta à demanda, que está em estudo a criação de ações destinadas a este grupo por sua área de Pessoas, Negócios de Varejo e Sustentabilidade.