Uma força para persistir
Para evitar que os estudantes deixem o ensino superior, as universidades realizam programas de acompanhamento e investimentos. A permanência dos alunos é uma das metas do Reuni, programa das universidades federais. Entre outras medidas, o programa prevê investimentos na estrutura das organizações e a oferta de bolsas aos universitários.
A qualidade da infraestrutura também está em pauta nas instituições particulares. "Precisamos modernizar o método de ensino, com melhores laboratórios e bibliotecas, viabilizando aulas mais atraentes", ressalta a presidente da comissão de processo seletivo da Unibrasil, Wanda Camargo.
Quando a razão da desistência é o desinteresse pelo curso, o jovem é estimulado a refletir sobre sua motivação. "Muitas vezes a expectativa com o curso é baseada em mitos. A reflexão os leva a considerar a desistência", afirma Ingrid Caroline de Oliveira Ausec, psicóloga do programa Profissão Certa, da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Para sanar o abandono por questão financeira, uma das soluções mais eficazes é a concessão de bolsas e o financiamento estudantil. Foi apenas com esse benefício que o funcionário público Rogério Michailev, 34, conseguiu continuar no curso de Educação Física na Universidade Positivo. Aproximadamente 70% do salário de Rogério era destinado ao pagamento da mensalidade, o que, depois de três meses, tornou-se inviável. O estudante conseguiu 50% de desconto nas parcelas, devendo pagar os 50% restantes após o término do curso. "Não penso mais em desistir. Eu já trabalhava como voluntário com crianças e quando concluir minha formação superior poderei contribuir muito mais."
A taxa de abandono nas universidades públicas do Paraná é muito similar a registrada em instituições particulares, que, em tese, teriam potencial para apresentar índices bem mais altos, já que cobram mensalidades. Essa é a análise que pode ser feita a partir dos dados do Censo da Educação Superior de 2008, o último divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Conforme o levantamento, o índice de evasão nas faculdades públicas do estado foi de 7,4%, enquanto nas privadas foi de 8,9%. Ao todo, em 2008, 27 mil dos 329 mil alunos do estado se afastaram do ensino superior.
A média geral do estado (8,3%) é pouco melhor do que a nacional e a menor da Região Sul. No Brasil, em cada grupo de dez estudantes, um abandona a universidade. Em 2008, quando 5 milhões de alunos estavam matriculados nos cursos de graduação, 532 mil deixaram a universidade, o que representa 10,5% do total. O Inep ainda não divulgou o estudo referente ao ano passado, mas dados do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos do Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp) apontam para um crescimento acentuado da evasão, que chegou a 19,1%.
Causas
Com ou sem mensalidade a ser paga no fim do mês, a questão socioeconômica é uma das principais causas que leva à evasão. Isso porque os estudantes arcam também com os gastos de transporte, alimentação e moradia. "Esta situação mostra a necessidade de políticas públicas e financiamentos estudantis no setor privado", analisa a vice-presidente da Associação Brasileira das Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES), Carmen Luiza da Silva.
Quando o problema não é financeiro, a falta de conhecimento sobre o curso escolhido se transforma em empecilho para a permanência na universidade. Em média, entre os desistentes, 20% são acadêmicos do primeiro e segundo anos. O interesse, geralmente, acaba assim que começam as disciplinas mais genéricas, ministradas no início da faculdade. O diretor-executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, alerta ainda para a dificuldade de muitos alunos em acompanhar as disciplinas mais específicas. "O estudante que vem das classes mais baixas, muitas vezes, tem só a formação básica. Quando ele entra em cursos mais difíceis, não consegue acompanhar e acaba abandonando", diz. Ele aponta essa situação como uma das responsáveis pela evolução de 19% para 21% da evasão no estado de São Paulo.
Motivação
"As universidades não estão preparadas para receber o perfil de aluno da geração Y", critica Capelato. Ligados a todos os tipos de tecnologia, os alunos dessa geração entram na universidade e se deparam com um sistema que não acompanha seus interesses e ritmo de aprendizado. "Quando chegam na sala de aula, encontram aquele velho sistema, em que o professor está na lousa e o aluno é passivo. Isso desestimula o estudante, que é inquieto", afirma.
A esses fatores, o especialista em educação superior José Dias Sobrinho adiciona a falta de perspectiva de empregos futuros em decorrência, principalmente, da baixa qualidade das instituições particulares. "Em muitos casos o aluno está sem motivação, cansado do trabalho, o que também reflete sua situação econômica. Enquanto isso, muitos cursos possuem baixa qualidade. As pequenas instituições recebem estudantes pelo método mais fácil, mas não necessariamente o mais interessante", afirma.
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Opção pelo trabalho
A preferência pelo trabalho em detrimento ao estudo é um fator determinante para a evasão universitária. Essa escolha, porém, impede que, posteriormente, o estudante ocupe uma posição confortável no mercado de trabalho. "Naquele momento, em que o jovem sofre um apelo de consumo, a renda é significativa, mas ao longo dos anos essa opção vai impossibilitar um ganho que estaria disponível a ele se concluísse o ensino superior", alerta a presidente da comissão de processo seletivo da Unibrasil, Wanda Camargo. A professora ressalta ainda que a conscientização da família é fundamental para evitar o abandono dos estudos. "É preciso mostrar ao aluno que aquele sacrifício vale a pena, pois a evasão nas universidades é mortal para um país que pretende desenvolver-se."
Algumas características culturais do brasileiro também contribuem para que a evasão aconteça no ensino superior. Na UTFPR, por exemplo, a chefe do Departamento de Educação, Sônia Ana Leszczynski, identificou uma nova situação. O uso do Enem como processo seletivo para ingresso na universidade possibilitou que estudantes de todo o Brasil se candidatassem às vagas na instituição, com boas chances de serem aprovados. Mas a distância entre a nova cidade e a família tornou-se mais um empecilho à permanência do estudante na universidade. "O Enem segue um modelo europeu e norte-americano de seleção, locais onde a partir dos 18 anos o estudante já sai de casa. Mas aqui não é assim. A cultura latino-americana é muito próxima e a questão familiar é muito arraigada. Muitas vezes o aluno não está preparado para viver em uma comunidade que não seja a familiar", afirma.
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