Rogério Michailev: sem o financiamento, ele já teria saído da faculdade| Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo

Uma força para persistir

Para evitar que os estudantes deixem o ensino superior, as universidades realizam programas de acompanhamento e investimentos. A permanência dos alunos é uma das metas do Reuni, programa das universidades federais. Entre outras medidas, o programa prevê investimentos na estrutura das organizações e a oferta de bolsas aos universitários.

A qualidade da infraestrutura também está em pauta nas instituições particulares. "Precisamos modernizar o método de ensino, com melhores laboratórios e bibliotecas, viabilizando aulas mais atraentes", ressalta a presidente da comissão de processo seletivo da Unibrasil, Wanda Camargo.

Quando a razão da desistência é o desinteresse pelo curso, o jovem é estimulado a refletir sobre sua motivação. "Muitas vezes a expectativa com o curso é baseada em mitos. A reflexão os leva a considerar a desistência", afirma Ingrid Caroline de Oliveira Ausec, psicóloga do programa Profissão Certa, da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Para sanar o abandono por questão financeira, uma das soluções mais eficazes é a concessão de bolsas e o financiamento estudantil. Foi apenas com esse benefício que o funcionário público Rogério Michailev, 34, conseguiu continuar no curso de Educação Física na Universidade Positivo. Aproximadamente 70% do salário de Rogério era destinado ao pagamento da mensalidade, o que, depois de três meses, tornou-se inviável. O estudante conseguiu 50% de desconto nas parcelas, devendo pagar os 50% restantes após o término do curso. "Não penso mais em desistir. Eu já trabalhava como voluntário com crianças e quando concluir minha formação superior poderei contribuir muito mais."

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Veja os índices de desistência por instituição
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A taxa de abandono nas universidades públicas do Paraná é muito similar a registrada em instituições particulares, que, em tese, teriam potencial para apresentar índices bem mais altos, já que cobram mensalidades. Essa é a análise que pode ser feita a partir dos dados do Censo da Educação Superior de 2008, o último divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educa­­cionais Anísio Teixeira (Inep). Con­­­forme o levantamento, o ín­­­dice de evasão nas faculdades públicas do estado foi de 7,4%, enquanto nas privadas foi de 8,9%. Ao todo, em 2008, 27 mil dos 329 mil alunos do estado se afastaram do ensino superior.

A média geral do estado (8,3%) é pouco melhor do que a nacional e a menor da Região Sul. No Brasil, em cada grupo de dez estudantes, um abandona a universidade. Em 2008, quando 5 milhões de alunos estavam matriculados nos cursos de graduação, 532 mil deixaram a universidade, o que representa 10,5% do total. O Inep ainda não divulgou o estudo referente ao ano passado, mas dados do Sindicato das Entidades Man­­­tene­­­doras de Estabelecimentos do Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp) apontam para um crescimento acentuado da evasão, que chegou a 19,1%.

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Causas

Com ou sem mensalidade a ser paga no fim do mês, a questão socioeconômica é uma das principais causas que leva à evasão. Isso porque os estudantes arcam também com os gastos de transporte, alimentação e moradia. "Esta situação mostra a necessidade de políticas públicas e financiamentos estudantis no setor privado", analisa a vice-presidente da Associação Brasileira das Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES), Carmen Luiza da Silva.

Quando o problema não é financeiro, a falta de conhecimento sobre o curso escolhido se transforma em empecilho para a permanência na universidade. Em média, entre os desistentes, 20% são acadêmicos do primeiro e segundo anos. O interesse, geralmente, acaba assim que começam as disciplinas mais genéricas, ministradas no início da faculdade. O diretor-executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, alerta ainda para a dificuldade de muitos alunos em acompanhar as disciplinas mais específicas. "O estudante que vem das classes mais baixas, muitas vezes, tem só a formação básica. Quando ele entra em cursos mais difíceis, não consegue acompanhar e acaba abandonando", diz. Ele aponta essa situação como uma das responsáveis pela evolução de 19% para 21% da evasão no estado de São Paulo.

Motivação

"As universidades não estão preparadas para receber o perfil de aluno da geração Y", critica Capelato. Ligados a todos os tipos de tecnologia, os alunos dessa geração entram na universidade e se deparam com um sistema que não acompanha seus interesses e ritmo de aprendizado. "Quando chegam na sala de aula, encontram aquele velho sistema, em que o professor está na lousa e o aluno é passivo. Isso desestimula o estudante, que é inquieto", afirma.

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A esses fatores, o especialista em educação superior José Dias Sobrinho adiciona a falta de perspectiva de empregos futuros em decorrência, principalmente, da baixa qualidade das instituições particulares. "Em muitos casos o aluno está sem motivação, cansado do trabalho, o que também reflete sua situação econômica. Enquanto isso, muitos cursos possuem baixa qualidade. As pequenas instituições recebem estudantes pelo método mais fácil, mas não necessariamente o mais interessante", afirma.

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Opção pelo trabalho

A preferência pelo trabalho em detrimento ao estudo é um fator determinante para a evasão universitária. Essa escolha, porém, impede que, posteriormente, o estudante ocupe uma posição confortável no mercado de trabalho. "Naquele momento, em que o jovem sofre um apelo de consumo, a renda é significativa, mas ao longo dos anos essa opção vai impossibilitar um ganho que estaria disponível a ele se concluísse o ensino superior", alerta a presidente da comissão de processo seletivo da Unibrasil, Wanda Camargo. A professora ressalta ainda que a conscientização da família é fundamental para evitar o abandono dos estudos. "É preciso mostrar ao aluno que aquele sacrifício vale a pena, pois a evasão nas universidades é mortal para um país que pretende desenvolver-se."

Algumas características culturais do brasileiro também contribuem para que a evasão aconteça no ensino superior. Na UTFPR, por exemplo, a chefe do Departamento de Educação, Sônia Ana Leszczynski, identificou uma nova situação. O uso do Enem como processo seletivo para ingresso na universidade possibilitou que estudantes de todo o Brasil se candidatassem às vagas na instituição, com boas chances de serem aprovados. Mas a distância entre a nova cidade e a família tornou-se mais um empecilho à permanência do estudante na universidade. "O Enem segue um modelo europeu e norte-americano de seleção, locais onde a partir dos 18 anos o estudante já sai de casa. Mas aqui não é assim. A cultura latino-americana é muito próxima e a questão familiar é muito arraigada. Muitas vezes o aluno não está preparado para viver em uma comunidade que não seja a familiar", afirma.

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