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História

Faivre, Abdala e um ônibus que às vezes falha

Mesmo sendo chamada de um lugar no fim do mundo, saem de Thereza Christina por dia, dois ônibus para Ponta Grossa e dois para Cândido de Abreu (não pontualmente, é verdade). O colégio tem 270 alunos no ginásio e 50 no primário. Os professores vêm de Ivaiporã e ficam de segunda a sexta-feira. Há também um bom posto de saúde. Faivre não acharia mal.

O balseiro José Moreira Andrade, 61 anos e "dois meses", como frisa, contudo, não reconhece mais o distrito em que nasceu. Ainda guri, descobriu que terra em que trabalhava não lhe pertencia, mas ainda assim a lida parecia valer a pena. Trabalhava "na cidade". "Thereza tinha loja e padaria, mas aos poucos foi tendo emprego só para alguns", diz José, em companhia da mulher, do filho e do sócio nos negócios: ele divide com um colega o salário mínimo que ganha ao fazer a breve travessia para Prudentópolis.

Há quem diga que a história de Thereza, hoje em dia, é com os "turcos". Os turcos são os Derbli, de origem libanesa, descendentes do pioneiro Abdala – o segundo estrangeiro mais famoso da área depois de Jean-Maurice Faivre. Jorge Carlos Derbli, 45 anos – o agente de saúde – conta que o avô fez a vida no Herval Grande. Os seus foram ficando por ali e hoje formam uma comunidade de nove pessoas, incluindo Tito, vereador local e comerciante. Fala-se mais de Abdala do que do soturno Faivre, um personagem ainda não digerido. "Os alunos estudam a história da colônia na escola", garante.

Há 50 quilômetros de Thereza Christina, o prefeito de Cândido de Abreu, o agrônomo Richard Golba, 45, faz "campanha" contínua para resgatar o francês ilustre, divulgando o livro Saga da Esperança, do ponta-grossense Josué Corrêa Fernandes. É o documento mais importante sobre a cooperativa e matéria-prima para um longa-metragem. É uma saga de herói. Socialista, cristão, visionário, Faivre viveu 11 anos nas margens do Ivaí, até sucumbir às doenças do sertão. Atraiu doutores e estropiados, tinha a admiração (e seis contos de réis) da imperatriz Thereza Christina e uma coragem que até hoje deixa o povo de Cândido de Abreu pasmo. Pelo menos isso: "O que esse homem veio fazer nesse fim de mundo?" A pergunta não quer calar.

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