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O relatório que aponta 1.028 mortes à espera de vaga em unidade de terapia intensiva (UTI), no Paraná, nos últimos 12 meses (conforme matéria publicada com destaque, ontem, na Gazeta do Povo), não indica quantos desses pacientes precisavam de leitos pediátricos ou neonatais. Pelo documento que detalha a situação dos doentes nos Campos Gerais é possível perceber como a carência de estrutura está atingindo também as crianças. De julho de 2004 a agosto de 2005, 21 bebês e 12 crianças morreram na fila de espera por UTI.

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) reconhece que o déficit de UTIs neonatal é grave, mas afirma que todos os esforços estão sendo feitos para vencer a demanda. De acordo com o diretor de Sistemas de Saúde da Sesa, Gilberto Martin, não há espaço físico e nem profissionais habilitados à disposição, mesmo diante da intenção declarada do governo de investir no setor.

A ocupação na UTI Neonatal do Hospital das Clínicas, em Curitiba, está sempre na casa de 110% a 120%. Como isso é possível? Com improvisação, responde o chefe da UTI e professor de Neonatologia na Universidade Federal do Paraná, Mitsuru Miyaki. O argumento é que esse tipo de unidade intensiva tem algumas particularidades. A gestante que chega no HC em trabalho de parto ou que já está internada no hospital por conta de uma gravidez de alto risco garante a entrada do filho na UTI. "Nós não temos o controle do acesso. Precisamos pegar todos os casos", conta. Em função disso, a unidade chega a ter 16 bebês, mesmo com capacidade plena para apenas 10.

Outra diferença da UTI Neonatal é a baixa rotatividade. O tempo médio de permanência é de 40 dias, sendo que alguns prematuros chegam a ficar internados por mais de três meses. A evolução da medicina possibilitou que recém-nascidos com menos de um quilo, que eram considerados inviáveis há dez anos, tenham chances de sobreviver. Até mesmo a pressão social em torno da luta pela preservação da vida das crianças é um peso que recai diariamente sobre a unidade. A expectativa é ainda maior porque 60% dos óbitos infantis ocorrem nos primeiros 28 dias de vida.

O bebê prematuro geralmente nasce com problemas respiratórios. Por isso, o médico explica que é ainda mais inadmissível a espera em filas no caso de neonatais. "Não pode demorar uma ou duas horas, muito menos dois dias", salienta. Até mesmo o translado por UTI móvel não é o mais recomendado. "O melhor transporte que existe é a barriga da mãe", argumenta, enfatizando a necessidade de aliar áreas de gestação de alto risco com unidades intensivas no mesmo ambiente hospitalar.

Mitsuru destaca que a infra-estrutura disponível é insuficiente e mal distribuída, considerando inclusive que há picos de necessidade de atendimento, já que os partos não respeitam regularidades. "A situação do Paraná não é ideal, mas não está caótica", acredita. Segundo o médico, o problema é que para melhorar sensivelmente os índices são necessários investimentos pesados. Além disso, a remuneração pelo sistema público é ínfima. O SUS paga cerca de R$ 250 por internamento neonatal – independentemente se o paciente fica cinco dias ou três meses no hospital. "Aí, o médico começa a fazer medicina para não onerar o hospital", lamenta.

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