Financiamento
Sanepar tenta linha de crédito para consumidor de baixa renda
Para tentar reduzir o número de casas sem caixa dágua, a Sanepar está tentando, há mais de um ano, abrir uma linha de financiamento desburocratizada com a Caixa Econômica Federal. A família acessaria o microcrédito para a compra e instalação do equipamento e o valor seria cobrado, parcelado, na conta de água. "Nossa inadimplência é muito baixa. Seria uma garantia de pagamento", explica o diretor de investimentos da empresa, João Martinho Cleto Reis Junior. O pedido foi estendido ao Ministério das Cidades, que estaria avaliando a possibilidade.
A linha de crédito estimada em até R$ 1,5 mil também poderia ser usada para financiar a ligação de água e esgoto. Segundo Martinho, muitas vezes a empresa faz a rede distribuidora e coletora, mas os moradores não têm dinheiro para bancar a obra para ligar o sistema da casa à estrutura de saneamento. "O valor pesa no bolso das famílias", reconhece. A Gazeta do Povo procurou a Caixa para saber se a proposta de linha de crédito havia avançado, mas a assessoria de imprensa declarou que não conseguiu confirmar a informação.
Higienização
Não basta ter reservatório, é preciso mantê-lo limpo
Ter caixa dágua em casa não garante abastecimento de qualidade. A limpeza do equipamento precisa ser feita a cada seis meses. Em casas alugadas, principalmente, é comum que a despreocupação leve a períodos longos sem higienização (veja gráfico). Mas não são poucos os casos de reclamações do gosto da água ou até mesmo de hospitalizações decorrentes de diarreia relacionados à sujeira depositada na caixa. Agenor Zarpelon, da Sanepar, lembra que o reservatório costuma ficar no sótão ou no telhado, em áreas com muito pó. "Precisa também verificar se está totalmente vedada, porque um bicho pode cair", salienta.
Além manter a caixa limpa, outra recomendação da Sanepar é ter um equipamento adequado ao tamanho da família. O ideal é que o reservatório seja capaz, ao menos, de garantir um dia de água. Sendo assim, uma casa com cinco moradores deve ter uma caixa de, no mínimo, 500 litros. "É bom lembrar que todas as obrigações relacionadas ao reservatório domiciliar são de responsabilidade do cliente."
A cada vez que o abastecimento de água é interrompido principalmente em casos de obras e reparos mais demorados os moradores de localidades mais pobres são os que mais sofrem. É que a torneira fica seca imediatamente. Um levantamento feito pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) mostra que a cada cinco casas paranaenses uma não tem caixa dágua. Entre a população com faixa de renda mensal abaixo de R$ 1,3 mil, a falta do reservatório domiciliar é ainda mais comum e foi observada em 30% das casas.
INFOGRÁFICO: Veja como limpar sua caixa d'água
A pesquisa foi feita em 82 cidades do Paraná, com 2,5 mil consumidores da Sanepar. A estatística é semelhante em todas as regiões ou seja, a proporção de 20% de casas sem caixa dágua se mantém. O equipamento está presente em moradias mais recentes e que passaram por vistoria da prefeitura para liberação do Habite-se. Contudo, em imóveis irregulares não há nenhum tipo de fiscalização. Em áreas extremamente carentes, em que as construções são precárias e faltam itens de subsistência, a caixa dágua se torna um luxo. Mas há regiões onde, diante de tantas prioridades de consumo, a instalação do equipamento não consegue prevalecer.
Aviso
A costureira Marli Pereira Machado vive há 25 anos em uma casa sem caixa dágua. Ela conta que desde que a Sanepar passou a avisar com antecedência sobre a interrupção no fornecimento, quase não tem mais problemas com a falta de água. Ao saber que haverá corte, ela se previne e reserva água para as necessidades diárias. "Às vezes, nem chega a faltar", diz. Moradora da Vila Guaíra, em Curitiba, a quatro quadras da Avenida Kennedy, Marli confessa que não sabe o preço de uma caixa dágua [varia de R$ 170 a R$ 2 mil] e que "sempre vai adiando" a instalação.
O gerente da Sanepar para os processos de água, Agenor Zarpelon, relata que a ausência de reservatório domiciliar em 20% das casas não tem qualquer impacto sobre a operação do sistema. Contudo, a empresa recomenda que as famílias tenham a caixa para garantir mais conforto. Ele enfatiza que quando o abastecimento é interrompido o número de reclamações contra a Sanepar aumenta bastante muito por causa da ausência da caixa.
A pesquisa ainda mostra correlação entre nível de instrução e presença de caixa dágua. Em casas em que o entrevistado disse ter formação universitária, o porcentual cai para 10%. Quando a pessoa consultada tem menos de 24 anos, o índice de ausência de caixa dágua sobe, indicando, numa suposição avaliada pela Sanepar, que o jovem desconhece a resposta e, na dúvida, afirma que a casa não tem o equipamento.
Estatísticas
Os principais órgãos que pesquisam abastecimento não se dedicaram a criar estatísticas sobre a presença de caixa dágua nas casas, entre eles IBGE, Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), agência Nacional de Águas (ANA), Instituto Trata Brasil ou Sabesp, companhia de saneamento de São Paulo e a maior do país. Agentes comunitários de saúde de Curitiba revelaram à reportagem que a prefeitura informou a eles que não há uma estatística consolidada sobre o assunto. Mesmo a empresa Eternit, que fabrica o equipamento, não tem uma estimativa de quantas casas têm caixa dágua.
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