São Paulo - Enquanto autoridades de saúde brasileiras lutam para reduzir a taxa de cesarianas desnecessárias no país, há regiões menos desenvolvidas do mundo em que mulheres estão morrendo por falta de acesso ao procedimento. O alerta é da médica Ana Pilar Betrán, do Departamento de Saúde Reprodutiva da Organização Mundial da Saúde (OMS), que participou sexta-feira do 13º Congresso Paulista de Obstetrícia e Ginecologia.
De acordo com dados da OMS, 530 mil mulheres e 3 milhões de recém-nascidos morrem por ano pela falta de assistência médica durante a gravidez e o parto. A maior parte dessas mortes ocorre em países menos desenvolvidos e poderia ser evitada com medidas simples, como garantir o acesso ao parto cirúrgico quando necessário.
"A média mundial de cesarianas está em torno de 15%, mas os números não são igualmente distribuídos", explica Ana Pilar. Enquanto a América está na casa dos 30%, a África registra 4%. A desigualdade se repete dentro de cada continente e dentro de cada país. No Brasil, por exemplo, o índice é 26% no Sistema Único de Saúde e 80% na rede de saúde suplementar. Enquanto a média brasileira é de 41%, a do Haiti é de 3%.
Só em caso de necessidade
Um erro comum, diz Ana Pilar, é afirmar que a taxa de cesáreas recomendada pela OMS é 15%. "A entidade determinou, em 1985, que não há justificativas para índices superiores a 15% em nenhuma parte do mundo, mas não estabeleceu um valor mínimo ou ideal", diz. Há estudos que defendem um índice entre 5% e 10% para cobrir os casos realmente necessários, nos quais a saúde da mulher ou da criança está em risco, conta a médica.
"Se analisarmos os números mais baixos da América, com exceção do Haiti, todos estão acima de 10%", afirma. "Já na África temos Chade, com 0,4%, Burkina Faso, com 0,7%, Etiópia e Nigéria, com 1%. Com certeza há mulheres morrendo nesses lugares por falta de acesso à cesariana."
Segundo o diretor do Departamento de Ações Estratégicas do Ministério da Saúde, Adson França, esse não é o caso brasileiro. "Mesmo em regiões longínquas da Amazônia não há estatísticas que nos permitam afirmar que a dificuldade de acesso à cesárea tem levado à morte de mulheres."
Reduzir a mortalidade materna em 75% até 2015 é um dos Objetivos do Milênio, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas. O Brasil, para atingir a meta, faz campanhas para estimular o parto normal. Muitos países em desenvolvimento, por outro lado, ainda têm de lutar para garantir o direito da mulher de fazer uma cesariana quando for preciso.