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No dia 14 de outubro, a cozinheira Aldeci Freire da Silva, 44 anos, levou o filho de 13 anos, que tinha quebrado o braço, a um posto de atendimento de emergência na região metropolitana de Curitiba. O garoto recebeu uma injeção e foi liberado. O braço só foi engessado três dias depois. No dia 25, a doméstica Cleuci Leite, 39 anos, percorreu postos de saúde e hospitais durante 24 horas para conseguir com que o filho dela, de 8 anos, que estava com apendicite, fosse atendido. Enquanto isso, em um hospital de Curitiba que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a auxiliar de produção Sandra Naves, 30 anos, aguardava há cinco horas sua mãe, de 47 anos, ser atendida – sem previsão para sair.

Essas são apenas algumas em meio às inúmeras reclamações diárias de atendimento insatisfatório em unidades de saúde e hospitais conveniados ao SUS em Curitiba e região metropolitana. O motivo para tantas queixas não é o número de postos de saúde e hospitais que prestam atendimento de emergência: nos 25 municípios há um total de 272 unidades de saúde e 37 hospitais que atendem pelo SUS, segundo levantamento feito pela Gazeta do Povo (veja o quadro). A relação é de um posto de saúde para cada grupo de 11 mil habitantes.

A origem do problema, segundo secretários de Saúde, é a dificuldade para contratar médicos para serviços de emergência e para o Programa de Saúde da Família (PSF), o que acaba gerando uma sobrecarga de trabalho. "A principal dificuldade é o salário", afirma a secretária de Saúde de Bocaiúva do Sul, Joana Cordeiro. "Os médicos geralmente acham que o salário não é bom. E a prefeitura não tem recursos para pagar o que eles pedem."

Segundo o secretário de Saúde de Colombo, Helder Lazarotto, os salários relativamente baixos e a constante abertura de concursos em outros municípios gera uma alta rotatividade de profissionais. "Quando conseguimos contratar, outro município abre concurso e oferece um salário maior. É uma verdadeira debandada", diz Lazarotto. "Mas a nossa maior dificuldade é para preencher as vagas do PSF, porque são oito horas de trabalho. Os médicos geralmente têm dois ou três locais de trabalho."

Quatro Barras é outra cidade em que a maior dificuldade é contratar profissionais para o PSF. "No nosso município até que a freqüência nos concursos está boa. O problema hoje é o Programa de Saúde da Família, que tem repasse de verbas do governo federal. Os médicos vêm para o município, ficam um ano e, quando começam a conviver com a comunidade, o contrato acaba", diz o secretário de Saúde, Eguiberto José Damasceno. "Muitos profissionais ficam pulando de galho em galho, preferem estudar ou tentar concursos públicos."

Longe da pobreza

Para o médico Romeu Bertol, especialista em Medicina de Família, uma das origens do mau- atendimento está na formação dos profissionais brasileiros. "O médico se forma para ser especialista, para ganhar mais e ter reconhecimento social. Geralmente vem de classe social elevada e não quer trabalhar com a pobreza", comenta Bertol, que é funcionário da prefeitura de Curitiba. "Os médicos (comunitários) têm de ter uma carreira. É preciso organizar um sistema em que a comunidade tenha um vínculo forte com o médico e que ele assuma a responsabilidade de cuidar das pessoas, sem passar o caso para a frente."

Por meio de sua assessoria, a Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba não confirmou se há dificuldade para contratar médicos, mas informou que, por terem mais de um emprego, geralmente os profissionais tentam escolher os locais de trabalho, o que acaba dificultando as contratações. Muitas vezes os hospitais que atendem pelo SUS também ficam com equipes reduzidas, já que os profissionais são contratados via prefeitura.

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