Rio de Janeiro A dificuldade da Polícia Militar do Rio de Janeiro de aumentar o patrulhamento nas ruas ficou evidente na semana passada, com a morte brutal de João Fernandez, de 6 anos, arrastado do lado de fora de um carro por assaltantes em fuga. O bando dirigiu sete quilômetros pela zona norte sem cruzar com policiais. Essa tipo de deficiência de pessoal ainda impede que experiências como a do Morro do Cavalão se multipliquem pelo estado.
"Esbarramos no custo (do projeto) e principalmente no problema do efetivo. Todo mundo quer policiamento e temos de priorizar vias expressas, por exemplo. Há muita demanda e pouco efetivo", diz o coronel Jorge Braga, que lidera o Comando de Policiamento em Áreas Especiais (Cpae).
O grupamento do Cavalão é um dos seis em atividade pelo Cpae. O primeiro foi instalado entre os Morros do Cantagalo e do Pavão-Pavãozinho, na zona sul, em 2000, criando uma experiência que serviu como paradigma. No entanto, o ressurgimento do tráfico na comunidade causou uma série de críticas à proposta.
O antropólogo Roberto Kant de Lima, pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF), alerta que o objetivo do policiamento comunitário não é deter o comércio de drogas. Nesse sentido, ele não acredita que o modelo dos Gpaes seja capaz de substituir as milícias, cujo objetivo é aniquilar o tráfico em troca de dinheiro. "O Gpae foi feito para ter um relacionamento com a comunidade, o que acaba deixando o tráfico submerso, mas ele continua existindo. O que não tem mais é o tiroteio. O enfrentamento é que cria o ciclo de extorsão que envolve policiais e traficantes. Isso o Gpae elimina", diz.
O prefeito do Rio, César Maia (PFL), diz já ter sugerido ao governo do estado a mudança do perfil dos Gpaes, para que sejam equipados para assumirem o combate ao tráfico. Nesse sentido, acredita o prefeito, poderiam ocupar o espaço das milícias. "É um raciocínio simples. Se a milícia afasta o tráfico, a PM entra e ocupa. Focalizar somente no combate à milícia é fazer o jogo do tráfico."