O início das aulas na data prevista na próxima segunda-feira está ameaçado em toda a rede estadual de ensino do Paraná. A uma semana do começo do ano letivo, a Secretaria de Estado da Educação (Seed) ainda não definiu o quadro de docentes para 2015. Os professores temporários nem sequer foram chamados. De quebra, a distribuição das aulas feita em dezembro foi cancelada, afetando a semana pedagógica, na qual diretores e docentes planejam as atividades do ano todo. Diante do atropelo no cronograma, a categoria ameaça uma greve antes mesmo de começarem as aulas.
A rede estadual não se sustenta apenas com professores do quadro próprio. Por causa disso, precisa recorrer aos professores temporários contratados em regime especial, via Processo Seletivo Simplificado (PSS). No ano passado, por exemplo, dos 70 mil professores da rede estadual, 29 mil eram PSSs.
Recentemente, o governador Beto Richa assinou a nomeação de 5.522 professores efetivos, aprovados em concurso. Além disso, cerca de 600 professores que prestam serviço administrativo na Seed e nos 32 núcleos de educação devem voltar às salas de aula. Mesmo assim, a conta não fecha. O Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato) estima que o governo precise contratar com urgência pelo menos 15 mil professores PSSs para garantir o início do ano letivo.
"Se não tiver essa contratação imediata, não terá condições de as escolas abrirem. Simplesmente não vamos ter professores nas salas", argumenta a secretária de finanças da APP-Sindicato, Marlei Fernandes. "São muitas as indagações, preocupações e insatisfações", emenda.
Os colégios localizados em bairros mais pobres e periféricos, principalmente de grandes cidades, enfrentam maior rotatividade de professores. Por isso, são os que mais dependem dos PSSs. O núcleo Sul da APP-Sindicato estima que escolas da periferia de Curitiba tenham, em média, 60% do corpo docente formado por PSSs. Algumas unidades chegam a ter índice de temporários ainda maior.
Cronograma
Na opinião do diretor de uma escola da região sul de Curitiba, o atraso no cronograma de aulas é "gravíssimo". O colégio do qual ele é responsável tem mais de 2,1 mil alunos.
Até agora, falta contratar 70% dos professores necessários para compor a grade. "Se as aulas começassem hoje, eu só teria 30% dos professores contratados. Com esse efetivo, não consigo abrir a escola", diz. Ele pediu para não ser identificado por temer represálias.
Em outro colégio da capital, o clima também é de indefinição. O diretor explica que ainda não sabe como vai fazer para suprir a falta de docentes. "Se eu te mostrar a planilha, você vai ver vários espaços em branco. São aulas que eu não tenho professor a quem atribuí-las. O que se diz é que o governo quer jogar o início das aulas para depois do carnaval, para economizar o salário que pagaria aos PSSs."
Redistribuição de aulas achata a semana pedagógica
O planejamento das atividades do ano letivo das escolas da rede estadual do Paraná terá de ser feito às pressas. A "semana pedagógica" foi achatada para dois dias: quinta e sexta-feira desta semana. O encolhimento foi determinado pela Secretaria da Educação (Seed), que vai usar os três primeiros dias úteis para fazer a redistribuição das aulas.
"É praticamente impossível fazer um bom programa a toque de caixa. A 'semana pedagógica' é o período em que fazemos o planejamento do ano todo a partir de critérios e metas de ensino. Nunca vi um início de ano tão desorganizado e incerto", diz o diretor de uma escola da capital.
Convocação
Segundo a Seed, a redistribuição foi determinada por causa da convocação de 600 professores que vinham prestando serviços administrativos na Secretaria e nos núcleos. Esses servidores vão voltar às salas de aula, mas não haviam participado da distribuição anterior, feita em dezembro de 2014 e que foi cancelada. O planejamento que os colégios já haviam feito foi todo perdido.