Verão
Se não houver consumo racional, vai faltar água na temporada no Litoral
A estimativa da Sanepar é de que a estrutura de abastecimento de água para o Litoral não irá comportar a demanda concentrada em dezembro e janeiro, caso a previsão de calor e o consumo exagerado se mantenham. No verão de 2013, moradores e turistas ficaram sem água durante três dias. A companhia de saneamento acredita que não são necessários novos investimentos para a temporada de praias, já que outras cidades do interior têm prioridade na realização de obras.
Há uma estação que opera por um bimestre por ano no Litoral. Durante todos os outros meses, ela precisa ser ligada periodicamente e receber manutenção constante para que não tenha problemas no momento em que for realmente usada. O argumento da Sanepar é de que basta o consumo racional para que não falte água nem mesmo nos dias de calor ou quando o número de pessoas nas praias salte dos 280 mil habituais para 1 milhão.
Torneiras secas
Cidades grandes já têm abastecimento comprometido
O abastecimento de água apenas por algumas horas do dia tem se tornado cada vez mais comum em grandes cidades do Paraná. As torneiras secam durante algumas horas do dia e depois a distribuição é retomada. A população que mais sente a falta do serviço é a que vive em casas sem caixa dágua. Nos locais em que há reservatório domiciliar, às vezes os moradores nem chegam a perceber que o abastecimento foi interrompido. Em meados de outubro, Ponta Grossa instituiu o rodízio. O consumo em dias de calor foi tamanho que a rede de distribuição não deu conta. Foram priorizados os bairros que têm hospitais.
Já em Guarapuava, o consumo atingiu o dobro da capacidade da estação de tratamento de água, que é de 320 litros por segundo. Em horários de pico, foram necessários 600 litros por segundo, comprometendo o nível dos reservatórios. Para tentar diminuir as consequências, a Sanepar realiza "manobras operacionais", que incluem, algumas vezes, reduzir a força do bombeamento da água. A empresa garante que está fazendo os investimentos necessários, com obras em fase de conclusão e outras prestes a serem iniciadas para alcançar a demanda.
Entre as situações mais complicadas está Francisco Beltrão, que já sente os efeitos do déficit na rede e deve ter um verão bastante complicado. Obras, no valor de R$ 10,7 milhões, estão sendo realizadas para aumentar em 50% a capacidade local. Contudo, até que a ampliação do sistema seja concluída, será necessário operar uma unidade compacta, que está sendo instalada na cidade como medida paliativa.
Curitiba
O abastecimento de água na Grande Curitiba está assegurado, diz a Sanepar. A região não sofre com os mesmos problemas que ocorrem no interior. Nos anos 1990, ocorreram episódios de racionamento na região da capital. Mas ampliações de rede, incluindo a criação de barragens, reduziram o número de dias com falta de água. Contudo, em 2011, a margem de segurança para garantir a demanda foi ultrapassada. Novos investimentos deram fôlego ao sistema. Os problemas em alguns bairros seriam pontuais e causados por complicações no bombeamento para regiões altas ou distantes dos reservatórios. Obras em Almirante Tamandaré, a serem concluídas no início de 2015, devem diminuir dificuldades recorrentes no bairro curitibano Cachoeira.
Sobrou chuva no Paraná neste ano, mas mesmo assim 10% das cidades correm risco de ter dificuldades no abastecimento. Grandes municípios, como Londrina, Ponta Grossa e Guarapuava, já têm registrado episódios esporádicos de falta de água. O calorão dos últimos dias acabou expondo o problema. Em algumas localidades, o consumo aumentou 30%, revelando que a rede não tinha condições de atender a demanda.
O diretor de operações da Sanepar, Paulo Alberto Dedavid, conta que a infraestrutura de abastecimento seja na captação, no tratamento ou na distribuição não é suficiente em 42 cidades, onde moram 2 milhões de pessoas. Num cenário que projeta os investimentos necessários para os próximos anos, o número de municípios sujeitos a problemas no abastecimento sobe para 80.
A Sanepar alega que três fatores teriam influenciado na falta de estrutura adequada. Dedavid afirma que obras da área de saneamento costumam demorar cinco anos entre o planejamento e o começo da operação para serem executadas e que a falta de investimentos, no passado, prejudicou a rede. O crescimento desordenado das cidades também pressiona o sistema de distribuição, que faz a água chegar ao consumidor.
Um exemplo é a construção de 2,7 mil unidades habitacionais do programa Minha Casa, Minha Vida em Londrina, sem que houvesse previsão de ampliação da rede naquela região da cidade. A demora para a renovação de contratos de concessão com as prefeituras também limita a Sanepar. Sem a garantia de que continuará prestando o serviço na cidade, a empresa não consegue empréstimos para realizar as obras necessárias. Muitas vezes, as negociações se estendem por vários anos.
Especialista em recursos hídricos da Agência Nacional de Água (ANA), Elizabeth Juliatto comenta que o Atlas de Abastecimento Urbano identificou 150 cidades paranaenses que precisam encontrar novos mananciais de água em breve. A situação não é desesperadora na maioria dos municípios, mas o objetivo do levantamento é justamente apontar os locais que exigem ações agora para que não falte água no futuro. Contudo, não há um órgão governamental que regule o setor de saneamento, estabelecendo quais investimentos devem ser feitos para atingir parâmetros mínimos e, assim, garantir a rede de abastecimento de água ou a coleta e tratamento de esgoto.
População parte para o improviso em Paiçandu, no Noroeste
Gesli Franco, da sucursal
Em baldes e panelas, a dona de casa Ana Paula de Oliveira, 23 anos, guarda água para limpar a casa, cozinhar e dar banho nos três filhos o mais novo, um bebê de 3 meses. Ela mora no Jardim Itaipu, um dos locais mais afetados pela falta de abastecimento em Paiçandu, Região Noroeste do estado. Assim como a maioria dos moradores do bairro, ela não possui caixa dágua e se vira como pode.
A dona de casa relata que o desabastecimento, por enquanto, é sentido somente nos fins de semana. Começa na sexta-feira e vai até a noite de domingo. "A água volta durante a madrugada e quando amanhece é desligada novamente. A gente tem de levantar da cama e correr antes que acabe."
Para piorar, as ruas não são asfaltadas e a poeira do chão de terra toma conta das casas, obrigando a fazer uma reserva de água para limpar os cômodos. "Se não limpar, a gente não aguenta ficar dentro de casa. Banho mesmo, somente nas crianças. Os adultos se lavam com um pano úmido. Com esse calorão não é fácil", lamenta Ana Paula. Na mesma situação, a vizinha Bruna Carolina Amorin da Silva, 20 anos, diz que já teve de pedir água emprestada para cozinhar no último fim de semana. "A situação está se agravando de dois meses para cá. Já tive que dormir no chão para não sujar a cama, pois a água para o banho não veio durante três dias", afirma.
Canequinha
No Jardim Nova Petrópolis, a aposentada Ana Alice Oliveira, 62 anos, conta que teve de improvisar para garantir a ida à igreja no sábado à noite. Os canos da caixa dágua abastecem somente o banheiro. "No restante da casa, a água vem da rua. O dia que falta, a gente pega no banheiro com canequinha para fazer todas as outras coisas."
A situação na cidade é de alerta. A Sanepar alega que o crescimento populacional foi de 15% nos últimos três anos, muito acima do previsto, e que a ampliação da rede não conseguiu acompanhar a demanda. Ainda de acordo com a empresa, a escassez de água ocorre geralmente entre quinta e sábado dias de consumo elevado e nos pontos mais altos da cidade. A companhia afirma que está "realizando adequações nas elevatórias de água, com a troca de bombas para aumentar a vazão da distribuição, e que já realiza estudos para perfuração de dois poços tubulares para aumentar a capacidade de produção".
Caminhões-pipa
Em municípios menores, o abastecimento pode ser reforçado com a perfuração de poços e com a entrega via caminhão-pipa. Para diminuir os riscos de falta de água, a Sanepar recomenda que a população pratique o consumo consciente.
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