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Entrevista

Falta investimento em software

Entrevista com Francisco Gomide, ex-ministro de Minas e Energia

Além de ter sido ministro de Minas e Energia (2002), o paranaense Francisco Gomide também ocupou os cargos de diretor de Itaipu e da Copel. Para ele, o apagão indica que o país deve investir mais na área de softwares e programas de computação para melhorar o sistema de transmissão de energia.

Como o senhor avalia o apagão da última semana?

O que aconteceu foi um problema na linha de transmissão. É um problema típico de país grande, em que as usinas ficam longe dos centros de carga. Mas é natural que haja uma preocupação com o que aconteceu, porque as consequências foram muito sérias.

O que é mais urgente que seja esclarecido?

Por que não foram acionados os esquemas de "ilhamento", que não permitem que os efeitos de um curto-circuito se propaguem. Nós percebemos que de certa maneira o Paraná ficou ilhado. Mas o sistema deveria ser mais eficiente para poupar também parte do Sudeste. Os dois mistérios técnicos que terão que se descobrir são por que os esquemas de "ilhamento" não foram eficazes e por que se demorou tanto tempo para o sistema voltar. No Paraguai, o sistema foi recomposto em 20 minutos.

O sistema tem recebido os investimentos adequados?

Há três áreas em que se investe em energia elétrica. Geração, transmissão e distribuição. No que diz respeito a transmissão, quando a gente fala que falta investimentos, falamos numa noção mais ampla do que simplesmente a linha física. Investimentos são também programas de computação e softwares de gestão de sistema. Fica a impressão de que nós tínhamos maneira de evitar o que aconteceu, de que se precisa investir mais em softwares.

A dependência de Itaipu é preocupante?

À medida que o sistema vai ficando cada vez mais complexo, essa rede de interligação vai se adensando, e o papel relativo da importância de cada linha e de cada usina vai caindo. E isso também vale para Itaipu. Antes, ela representava uma porcentagem imensa do que era consumido, e hoje já é menos. Daqui a 20 anos, será menos ainda.

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